"A minha ideia era mais simbólica e mais restritiva. Não era desta dimensão e deste número", disse o chefe de Estado, falando em entrevista por telefone à Rádio Montanha, da ilha do Pico.

E prosseguiu: "Confesso que quando pensei na regra pensei numa cerimónia mais simbólica, mais restritiva, menos ampla, do tipo da cerimónia do 25 de abril".

De todo o modo, a "interpretação das autoridades sanitárias foi mais extensa, ampla e vasta" da que o chefe de Estado tinha idealizado no seu "espírito", declarando Marcelo entender as críticas à dimensão e características do assinalar da data em Lisboa.

"Felizmente os portugueses de uma forma maioritária no resto do fim de semana deram um exemplo de grande calma e serenidade e não embarcaram em aventuras", acrescentou ainda.

Já sobre o 13 de maio, o Presidente da República, considerou na mesma entrevista que as "cerimónias que a Igreja escolheu" para assinalar o 13 de maio "são as que o bom senso e as medidas sanitárias aconselham".

"Sou o primeiro a sentir a falta de eucaristias, procissões, festas tradicionais. Mas isso por um valor maior: o direito à vida e à saúde. Isso aplica-se exatamente ao 13 de Maio", declarou o chefe de Estado, falando à Rádio Montanha, da ilha açoriana do Pico.

Marcelo agradeceu a todas as igrejas e confissões o papel responsável na adoção de medidas para atenuar as concentrações de pessoas em plena pandemia de covid-19.

Sobre o 13 de Maio e as tradicionais celebrações em Fátima, o Presidente da República lembrou que este é um fenómeno de "centenas de milhares de pessoas".

"Todos nós temos a noção de que em meados de maio ter este número de pessoas em peregrinação era de facto o contrário do que a Igreja tem defendido e bem, a salvaguarda do direito à vida e à saúde", disse ainda na entrevista à rádio picarota.

Em 06 de abril, o Santuário de Fátima já tinha anunciado que a Peregrinação Internacional Aniversária de maio seria este ano celebrada sem a presença física de peregrinos, devido à covid-19, mas que se manteriam as principais celebrações.

Em entrevista à SIC no sábado, a ministra da Saúde, Marta Temido, assumiu que as celebrações do 13 de maio, em Fátima, são “uma possibilidade”, desde que sejam uma opção dos organizadores e cumpridas as regras sanitárias.

Posteriormente, o bispo de Leiria-Fátima, António Marto, disse já que o 13 de Maio no Santuário de Fátima será celebrado “sem a habitual participação dos peregrinos”, como já tinha sido decidido pela Igreja Católica.

CGTP recusa críticas

A CGTP-IN repudiou ontem as críticas às comemorações do 1.º de Maio, assegurando que todas as regras do distanciamento sanitário e de proteção da saúde foram cumpridas e que apenas exerceram um direito conquistado no 25 de Abril.

“Não houve proximidade entre trabalhadores, nem o habitual convívio, mas apenas o exercício de um direito que conquistámos em Abril de 1974 e do qual não abdicamos”, afirma em comunicado a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional (CGTP-IN).

Relativamente às críticas feitas por partidos políticos e outras entidades às celebrações do Dia do Trabalhador na Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa, a CGTP diz repudiar “veementemente o exercício persecutório aos que ousam lutar usando o espaço público”.

Para a estrutura sindical, “tal ação não é compatível com a democracia”: “os direitos, nomeadamente os direitos coletivos dos trabalhadores, não estão suspensos e nas iniciativas realizadas foram garantidas todas as normas de proteção da saúde e distanciamento sanitário, como aliás foi publicamente constatado por todos”.

“Aliás, esta campanha, que também já tinha sido tentada nas comemorações do 25 de Abril, tem como objetivo tentar impedir a luta e as ações em defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores não só no 1º de Maio mas também no futuro”, sustenta no comunicado.

Para a CGTP, o Dia do Trabalhador foi “um exemplo do exercício de um direito arduamente conquistado”, porque não só cumpriram todas as regras, como exigiram “a efetivação de todas as normas de proteção individual e coletiva para todos os que continuam a trabalhar e para aqueles que vão retomar a sua atividade brevemente”.

“Não pudemos realizar as manifestações que teriam a participação de centenas de milhares de trabalhadores, nem realizamos qualquer ação nacional”, observa.

Quanto às críticas de terem chegado manifestantes de fora de Lisboa em autocarros, numa altura em que é proibida a circulação entre concelhos, a CGTP refere que os participantes se deslocaram de “pontos da Área Metropolitana, em transporte individual ou em autocarros cuja lotação não ultrapassou um terço da capacidade”, usando todos equipamentos de proteção individual.

“As iniciativas que a CGTP-IN realizou no 1.º de Maio em 24 localidades deram voz aos milhões de trabalhadores que em Portugal estão a sofrer as consequências das opções e desequilíbrios das medidas decididas no plano económico e social, que estão a ser brutalmente agravadas no quadro do surto epidémico e da necessidade de encerramento de algumas atividades e confinamento de grande parte dos trabalhadores e da população”, salienta.

A central sindical criticou ainda que “há sectores” da sociedade que “procuram no surto epidémico a justificação para o regresso ao passado, para a reintrodução do totalitarismo, de mordaças e do unanimismo como única forma de pensar e estar”.

Portugal entrou domingo em situação de calamidade, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.

Esta nova fase de combate à covid-19 prevê o confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância ativa, o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.