Marcelo Rebelo de Sousa, que não mencionou nenhum país em concreto, falava na Sessão Solene de Abertura da XII Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Santa Maria, na ilha do Sal, Cabo Verde.
Numa intervenção de cerca de dez minutos, o chefe de Estado português quis "saudar o que foram os passos" desta comunidade nos últimos dois anos, desde a anterior cimeira, realizada em Brasília, em novembro de 2016.
"Vivemos, tantos de nós, passos importantes, cada qual à sua maneira, no caminho da afirmação do Estado de direito, da democracia, do apaziguamento, da tolerância, do diálogo, da esperança por mais liberdade e mais igualdade, mais solidariedade", declarou, acrescentando: "E sabemos todos que há valores essenciais de que não podemos abdicar nem suspender".
Marcelo Rebelo de Sousa não nomeou nenhum dos nove Estados-membros da CPLP - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Guiné Equatorial, cuja adesão, em 2014, criou polémica - e em seguida apontou um fator comum: "Trabalhámos todos para sairmos de crises económicas e financeiras e correspondermos ao nosso potencial, por demasiado tempo adiado".
"Circularam entre nós, mais ainda, as pessoas, esse princípio e fim da aposta reforçada na mobilidade dentro do nosso espaço de família. Mobilizaram-se ainda mais as sociedades civis: os trabalhadores, os empresários, as escolas, as instituições solidárias. Aproximaram-se de nós mais Estados a quererem ser nossos observadores", acrescentou.
O Presidente português destacou "dois deles, muito simbólicos, por representarem, por natureza, matrizes de outras comunidades linguísticas poderosas: o Reino Unido e a França".
Relativamente à importância da CPLP no plano global, Marcelo Rebelo de Sousa sustentou que existe "certamente perceção da relevância da cooperação económica" e do "papel geoestratégico mediador" desta comunidade, que descreveu como "plataforma entre culturas, civilizações, oceanos e continentes".
O chefe de Estado salientou as candidaturas recentes bem-sucedidas a organizações internacionais como as Nações Unidas, a Organização Mundial do Comércio e a Organização Internacional para as Migrações.
"Tentámos sempre ser obreiros de paz, de defesa dos direitos humanos, de democracia, de entendimento, de multilateralismo, nunca deixando de reforçar as nossas posições nos nossos continentes, no núcleo duro das organizações regionais a que pertencemos", disse.
No quadro interno da CPLP, segundo o Presidente português, também houve progressos: "Percebemos mais ainda como era insensato menosprezarmo-nos, minimizarmo-nos, subavaliarmo-nos".
"Deixámos para trás o complexo de só gostarmos do vizinho do lado, da comunidade do lado, mesmo que nela também estejamos. Ou a vaidade de querermos ser tudo sozinhos", completou, manifestando um "otimismo realista e exigente, virado para o futuro", na CPLP.
Marcelo pede reforço da papel da mulher, atenção à mobilidade e ao ambiente
Expressando um "otimismo realista e exigente, virado para o futuro" em relação à CPLP, o chefe de Estado português declarou: "Temos e podemos fazer ainda mais e melhor, ainda melhor. Olhar mais para as pessoas, para o seu estatuto, para os seus problemas concretos. Olhar mais para as sociedades civis e menos para os políticos e para o seu mundo próprio".
"Olhar mais para o reforço do papel da mulher nas nossas sociedades. Olhar mais para os jovens, porque quem poderá dar vida à nossa comunidade, como aos nossos Estados, são eles. Não somos muitos de nós, certamente cheios de juventude de pensamento, mas mais perto do outono ou até do inverno do que das promessas da primavera", prosseguiu.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, é preciso também "olhar mais para educação, a qualificação, a ciência, a inovação", bem como "para a mobilidade pessoal, social, económica, empresarial e financeira" e "para o ambiente, as alterações climáticas, a qualidade de vida, os compromissos intergeracionais".
"Olhar mais para os oceanos e as plataformas continentais, que nos ligam e onde temos posições estratégicas essenciais. Tão essenciais, que estão a ser constantemente acompanhadas por outros, como por exemplo os Estados Unidos da América, a República Popular da China e até, mais esbatidamente, a Federação Russa", acrescentou.
No que respeita à língua e à cultura, o Presidente português advogou que a CPLP deve valorizar o que é comum e o que é diverso, "sem a obsessão de resumir a comunidade a uma mera expressão linguística", mas tendo "a consciência de que esse é um trunfo" no quadro global.
"E, como todos os trunfos de que se dispõe, é um erro primário desperdiçá-lo ou desconsidera-lo", considerou.
Marcelo Rebelo de Sousa encerrou o seu discurso declarando que, mais ainda do que há dois anos, na cimeira de Brasília, acredita na CPLP: "Porque acredito na razão do óbvio, na força do evidente, na imparável dinâmica das pessoas, no apelo do contexto em que nos movemos, no poder que, nesse contexto, está ao nosso alcance".
"Que à estratégia de Brasília se some agora o espírito do Sal, o vigor do oceano e também a nossa vontade: a vontade de não desiludirmos centenas de milhões de compatriotas", apelou.
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