Segundo as autoridades religiosas, esta é a maior comemoração do culto mariano na África Subsaariana, num fim de semana de fé católica onde todas as estradas convergem para a Muxima, uma pequena localidade a cerca de duas horas de distância da capital angolana, Luanda.

Mamã Muxima acolhe os seu seus fiéis, desde cedo: a primeira eucaristia foi às 07:00, mas outras se irão celebrar numa jornada que termina com uma procissão de luz e uma vigília de oração pelas 23:00.

“Mamã Muxima não é outra senão a Virgem Maria, é a mesma mãe de Jesus. Os nomes mudam consoante os lugares, aqui é a Muxima, mas se estamos em Fátima ou em Lourdes é a mesma mãe”, descreve o coordenador de informação de santuário, padre António Hamuyela.

O sacerdote diz que os peregrinos vêm “à procura de união com Deus, de ser um bom cristão. Vêm à mamã para agradecer os feitos, pedir por alguém, há muitos motivos”, disse à Lusa.

Maria Helena Correia, de 21 anos, veio “reviver a fé em Cristo e estar mais próxima de Cristo através da Mamã Muxima, a “protetora” que ajuda a alcançar “objetivos religiosos e sociais”.

“Ao lado da mamã, nós temos paz de espírito”, afirma a jovem crente, que vem pela quinta vez à peregrinação.

Ambrósio Pedro diz que esta é a sua “casa”. Esteve em maio em Fátima e “não poderia deixar de vir aqui”.

Para o angolano de 42 anos, só “o espaço é que muda, porque Maria é única”

“Faz-me viver, faz-me ser mais eu”, salienta.

O ponto alto das comemorações é a missa de abertura celebrada pelo arcebispo de Luanda, Filomeno Dias, mas até lá o vaivém de peregrinos é incessante. Ora se concentram frente ao palco, ora circulam pelo recinto, ora aproveitam para fazer a sesta numa das tendas espalhados pelo recinto, ora peregrinam até à antiga fortaleza transformada em local de devoção.

Os caminhos da fé são árduos e a subida que leva até ao santuário é prova disso, testando os crentes num acesso íngreme e pedregoso, pontuado por alguns oratórios onde os mais devotos acendem velas e pedem bênçãos.

A descer, vem Isabel António que decidiu voltar à peregrinação pela segunda vez, porque “o coração tocou”, aproveitando para “pedir bênção e saúde para toda a gente”

Enquanto uns rezam e refletem sobre os valores cristãos, outros aproveitam a ocasião para fazer negócio.

Nas ruas empoeiradas que circulam o local, onde milhares de tendas foram montadas pelos devotos para passarem a noite, vende-se um pouco de tudo: há material religioso, incluindo terços, Nossas Senhoras fluorescentes e capulanas com estampados religiosos, chinelos e meias para substituir as que os peregrinos já gastaram, frutas, legumes e peixe de rio que, frito ali mesmo, em restaurantes improvisados ajuda a matar a fome aos peregrinos.

No palco, sucedem-se missas e celebrações em que os padres saltam e incentivam os fiéis à adoração a Jesus e Maria. Estes respondem animados, acenando com lenços, dançando e entoando “aleluias” com toda a alegria e musicalidade africana que marcam esta celebração onde comparecem dioceses de todo o país.

Para o local foram mobilizados 800 polícias que estão distribuídos por vários setores para assegurar “que tudo corre bem”, adiantou à Lusa Hermenegildo de Brito, diretor de comunicação institucional do comando da província de Luanda.

As celebrações começaram mal, na sexta-feira, com um duplo atropelamento mortal e as autoridades querem evitar mais acidentes, por isso reforçaram o cordão de segurança.

Os últimos cinco quilómetros antes de chegar à vila fazem-se em marcha lenta, marcada pelo ritmo das viaturas policiais que obrigam carros e autocarros a seguir em caravana, para minimizar os riscos.

Para apoiar os peregrinos estão também destacados 280 técnicos de saúde, de acordo com Zenilda Volola, diretora municipal de comunicação da administração de Quissama, o município onde se situa a vila ocupada por portugueses no século XVI.

À peregrinação anual faltam infraestruturas com capacidade para acolher tanta gente. Os poucos alojamentos existentes à volta ficam rapidamente ocupados e para quem não fez reserva a tempo, resta-lhe dormir numa tenda.

O padre António Hamuyela reconhece que as estruturas são precárias e diz que há um projeto que espera vir a concretizar, mas ainda não saiu do papel.

“Há alguns anos que a igreja angolana e o governo local têm vindo a trabalhar no sentido de ter um santuário digno, grande, que possa albergar tamanha gente. Pedimos a Deus que este projeto realmente se faça, o governo e a igreja estão unidos, mas faltam alguns detalhes”, realçou.