“Mário Soares era amigo de Moçambique, da Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder], da Renamo e do povo em geral. Um homem que fazia a ligação com o povo moçambicano. Perdemos um dos grandes amigos da Europa”, afirmou o líder da oposição, numa mensagem reproduzida hoje na página eletrónica do jornal O País.
Para Afonso Dhlakama, o antigo Presidente português, desaparecido no sábado aos 92 anos em Lisboa, “compreendia os problemas de Moçambique e procurava ajudar o país”, destacando o seu papel nas negociações entre Portugal e Frelimo, que conduziram aos acordos de Lusaca, em 1974, e à independência moçambicana, no ano seguinte.
“Embora em termos ideológicos fosse socialista, era muito meu amigo, muito pessoal, ele e a esposa que faleceu ano passado”, observou o líder da Renamo, recordando as ações humanitárias de Maria Barroso de distribuição de alimentos, nos períodos de maiores crises de fome em Moçambique.
Mário Soares, disse ainda Dhlakama, era uma pessoa simples e independente de questões de protocolares: “Na altura em que já era Presidente, eu chegava a Portugal e não precisava de protocolo, recebia-me”.
Também o líder do terceiro maior partido moçambicano, Movimento Democrático de Moçambique (MDM), reagiu hoje à morte de Mário Soares.
“Moçambique e África devem-lhe muito, era um herói africano residente da Europa”, descreveu Daviz Simango em declarações aos jornalistas na cidade da Beira, onde é presidente da autarquia.
Simango afirmou que a morte de Mário Soares é “uma notícia triste” e dirigiu “sentidas condolências e de pesar à República portuguesa, aos portugueses, à família e ao Partido Socialista, de que ele era fundador”.
O presidente do MDM destacou o papel de Mário Soares na denúncia do sistema colonial e na descolonização de vários países africanos.
O dirigente moçambicano, filho de um dos principais fundadores da Frelimo, Uria Simango, recordou que a luta de Mário Soares contra o então regime português colocou-o ao lado de Humberto Delgado nas eleições presidenciais de 1958 e que, apesar de derrotado no escrutínio, “teve uma vitória esmagadora na Beira”.
Esse apoio, prosseguiu, custou-lhe o exílio em São Tomé e Príncipe, onde testemunhou o sofrimento de moçambicanos deportados para o arquipélago.
“Mário Soares viu o sangue africano, viveu o sofrimento moçambicano e foi a peça chave para a libertação desses povos”, assinalou Simango.
Mário Soares morreu no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde estava internado há 26 dias, desde 13 de dezembro.
O Governo decretou três dias de luto nacional, a partir de segunda-feira.
O corpo do antigo Presidente da República vai estar em câmara ardente no Mosteiro dos Jerónimos a partir das 13:00 de segunda-feira, e o funeral de Estado realiza-se a partir das 15:30 de terça-feira, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
Nascido a 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, advogado, combateu a ditadura do Estado Novo e foi fundador e primeiro líder do PS.
Após a revolução do 25 de Abril de 1974, regressou do exílio em França e foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, tendo pedido a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e assinado o respetivo tratado, em 1985.
Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da República durante dois mandatos, até 1996.
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