“Mário Soares é o pai da democracia portuguesa, antes do 25 de abril e depois do 25 de abril. É o pai do reencontro de Portugal com a sua história, do reencontro de Portugal com o seu espaço cultural. É tudo isso. É a pessoa mais importante, pelo menos para a minha geração”, destacou o chefe da diplomacia portuguesa em Nova Deli, onde se encontra a acompanhar a visita de Estado do primeiro-ministro, António Costa, à Índia, que começa hoje.

Augusto Santos Silva falava aos jornalistas visivelmente emocionado e afirmou: “É um dia para chorar”.

“A democracia portuguesa está à altura do seu pai”, disse depois.

O número dois do Governo recordou a luta de Mário Soares antes e depois da revolução de 1974 e também a “convicção e força” com que integrou Portugal no espaço europeu, bem como a “energia enorme” com que se bateu até ao fim.

“Mário Soares sempre foi um rebelde, uma pessoa cheia de energia, sempre foi novo e jovem até ao fim”, recordou o ministro.

Questionado sobre a decisão de prosseguir com a visita à Índia, que termina na quinta-feira, Santos Silva disse acreditar que o antigo Presidente “ficaria contente com esta decisão”.

“Ele sempre pôs os interesses do Estado, da nação, do povo português acima de quaisquer outros. Estamos a iniciar uma vista de Estado que é muito importante. A visita de Estado tem momentos políticos que são determinantes e julgo que ela faz sentido”, considerou, lembrando que foi Mário Soares, enquanto responsável da diplomacia portuguesa, que “participou no restabelecimento das relações diplomáticas com a Índia”.

“Eu hoje nem sequer queria lembrar o Mário Soares socialista, queria lembrar o Mário Soares pessoa, português de primeira e democrata”, sublinhou.

O governante apontou que “a lição principal” que Soares deixou é a de que “todos somos necessários”.

“Uns pensamos uma coisa, outros outra, se pensamos coisas diferentes devemos falar entre nós, devemos discutir e acertar métodos pacíficos para resolver eventuais diferendos e devemos todos trabalhar em função do que acreditamos ser o melhor para o nosso país e devemos trabalhar para melhorar o nosso país, melhorar a Europa e nunca ceder em relação aos valores que consideramos fundamentais”, destacou.

Mário Soares encontrava-se internado desde o dia 13 de dezembro, tendo sido transferido no dia 22 dos Cuidados Intensivos para a "unidade de internamento em regime reservado" do Hospital da Cruz Vermelha, depois de sinais de melhoria do estado de saúde.

No entanto, em 24 de dezembro um agravamento súbito da situação clínica obrigou ao regresso do antigo chefe de Estado à Unidade de Cuidados Intensivos.

Em 31 de dezembro, dia da última atualização feita pelo hospital sobre o seu estado de saúde, Mário Soares continuava em "coma profundo", mas "estável e com parâmetros vitais normais".

Mário Soares, que morreu hoje aos 92 anos, desempenhou os mais altos cargos no país e a sua vida confunde-se com a própria história da democracia portuguesa: combateu a ditadura, foi fundador do PS, primeiro-ministro e Presidente da República.