Sem "bola de cristal", Marta Temido rejeita a ideia de que as decisões do governo para fazer face à pandemia tenham andado atrás da doença. Agora, importa é perceber os fatores que levam a área metropolitana de Lisboa a concentrar a maioria dos casos — bem como aquilo que a distingue, por exemplo, da área metropolitana do Porto, onde, pelo contrário, os focos não se registam.
"Aquilo que sucede na situação portuguesa é que ela registou duas fases: uma fase de crescimento exponencial, cujo pico se registou em março, e depois registámos um decréscimo". Todavia, explicou a ministra da Saúde, a região de Lisboa não acompanhou essa descida, mantendo-se um "planalto persistente" e uma dificuldade em romper as cadeias de transmissão do SARS-CoV-2, o coronavírus responsável pela covid-19.
Dos internados, há "uma percentagem relativamente constante de cerca de 90% de internados em Lisboa e Vale do Tejo", o que obriga a que a atividade assistencial programada na área metropolitana da capital ainda não esteja normalizada, disse a ministra.
Sobre os hospitais de Lisboa, há 6.100 camas e 271 camas de cuidados intensivos. Destas últimas, 95 estão reservadas para doentes covid-19 — mas só 79 camas de cuidados intensivos em todo o país estão ocupadas. Amadora-Sintra e o Beatriz Ângelo (em Loures) são os hospitais sob maior pressão.
Há doentes que já foram deslocados para Santarém e para o Médio Tejo, "por uma razão de segurança", explicou a ministra. "Para deixar margem".
Estas afirmações de Marta Temido foram hoje feitas numa entrevista a Vítor Gonçalves, na RTP3.
Questionada sobre o facto de o maior foco atual se concentrar nalgumas freguesias da área metropolitana de Lisboa, a ministra aponta para fatores como a densidade populacional e a quantidade de contactos destas zonas. "Aquilo que aconteceu em Lisboa foi que a curva epidémica não baixou tanto do que noutras zonas do país".
Mas se Lisboa concentra agora os casos, foi o Norte — e o Porto — onde a covid-19 começou por gerar preocupações. A ministra garante que as autoridades estão a olhar para as grandes áreas metropolitanas do país para perceber o que as distingue, bem como a acompanhar os bairros do Porto para evitar que a situação de Lisboa ali se repita.
Em Lisboa e Vale do Tejo há mais de uma centena de médicos de saúde pública. Mas continua a ser o Norte a registar uma maior capacidade de resposta, admite a ministra: se Lisboa tem 28% dos médicos de saúde pública, o Norte tem 38% — e nenhum problema com médicos de família, explicou Temido.
Questionada sobre as críticas do presidente da câmara municipal de Lisboa, o socialista Fernando Medina, a ministra diz que não lhe parece ser possível "dizer que as chefias do país, que nos fizeram chegar até aqui, são incompetentes". Porém, admite que "é natural" que os momentos de maior pressão exponham fragilidades. E reforça: as chefias mantêm a confiança da ministra e da Direção-Geral da Saúde. E completa: "a diretora-geral da Saúde mantém a minha confiança".
"Um país que teve hoje 689 casos restringe as viagens para Portugal?", comentou Marta Temido quando confrontada com a possibilidade de os índices de transmissibilidade (o famoso rt) influenciarem a imagem externa do país, nomeadamente na retoma de viagens.
Marta Temido esteve esta quarta-feira a ser ouvida no parlamento, na Comissão de Saúde. Entre outras coisas, perante os deputados a ministra afirmou que os transportes públicos não estão associados a nenhum dos novos casos de infeção na região de Lisboa e Vale do Tejo; anunciou um despacho conjunto para exigir um teste negativo às pessoas que entrem em Portugal provenientes de "determinadas origens"; destacou a entrada de mais 30 médicos de saúde pública a tempo completo para reforçar as equipas que estão a assegurar os inquéritos epidemiológicos na área de saúde de Lisboa e Vale do Tejo; assegurou ainda que até terça-feira à noite não havia testes epidemiológicos em atraso em Lisboa.
Marta Temido realçou ainda que existe uma obrigatoriedade para que as pessoas respeitem as ordens de confinamento, acompanhada de um quadro sancionatório que permite que a violação da obrigação de confinamento faça os incumpridores incorrer na prática de um crime.
Já durante a tarde, a secretária de Estado da Saúde Adjunta e da Saúde declarou solidariedade com as autoridades de saúde da região de Lisboa, atribuindo as dificuldades na contenção da pandemia a fatores como moradas falsas que impedem o rastreio de contactos — e não às chefias, como acusou o autarca Fernando Medina, de Lisboa.
“As chefias são sempre aqueles que assumem a responsabilidade como um todo. Os problemas que surgem na operação são os que são. Temo-los sinalizados. E estamos todos, enquanto parte desta operação, solidários com as soluções que vão sendo encontradas, afirmou Jamila Madeira, em conferência de imprensa no Ministério da Saúde.
Confrontada com críticas do presidente da câmara de Lisboa, o socialista Fernando Medina, que defendeu a substituição de chefias nas autoridades de saúde de Lisboa face à falta de resultados na contenção da pandemia, Jamila Madeira afirmou que “por muito bons que sejam os profissionais ou as chefias, deparar-se-ão sempre com esses problemas técnicos que se vão refletir na evolução dos contactos e na evolução da pandemia”.
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