"Há mesmo um risco de os intelectuais serem substituídos pelas redes sociais e nós temos que considerar este risco possível como uma ameaça a natureza das nossas democracias", disse Augusto Santos Silva, numa conferência na Universidade de São Paulo (USP), uma das mais renomadas instituições de pesquisa e Ensino Superior do Brasil.

Convidado para participar no debate "Conhecimento, informação e ação política: estão os intelectuais a ser substituídos pelas redes sociais?", o ministro português disse que "o populismo e a desinformação disseminados pelas 'fake news' (notícias falsas) são grandes ameaças à polícia e a sociedade".

"Olhando primeiro para o populismo como cultura política que está a crescer na Europa e na América do Norte, é preciso considerar que ele se caracteriza pelo antielitismo, mas acima de tudo pelo antipluralismo e por um apelo a abordagem moralista e emocional da política. Essa concepção está a colocar em causa o pluralismo que construiu as democracias", explicou.

Sobre as notícias falsas, Augusto Santos Silva avaliou que estas alimentam o crescimento da desinformação já que têm três traços preocupantes: a indistinção entre informação e propaganda, a não separação de notícias e boatos e também a junção da apresentação dos factos com as opiniões.

"Esta tendência que se vê muito nas redes sociais também está a contaminar os nossos media tradicional e traz consigo a ideia de que podemos ser menos rigorosos na apuração dos factos e que os mecanismos de apuração podem ser dispensados (...). Tudo isto constitui uma ameaça à Democracia e a função dos intelectuais", ponderou.

Apesar das críticas que fez ao mau uso das redes sociais, Augusto Santos Silva foi enfático ao reconhecer a função destas na sociedade contemporânea.

"As redes sociais existem, as novas tecnologias de informação e plataformas de comunicação existem, continuarão a existir e serão ainda mais eficazes e presentes na nossa vida privada e social. Este é o nosso presente e o nosso futuro. O modelo de comunicação que elas permitem é positivo e muito poderoso", disse.

O ministro salientou que uma forma de combater os desvios causados por o mau uso das redes sociais é convocar os intelectuais a fazerem uma ampla defesa da razão e do debate no ato de comunicação.

"Hoje, entendemos que a razão é dada pela troca de argumentos. A razão não é uma verdade revelada (...). Outro antidoto [contra o mau uso das redes sociais] é a defesa da mediação e das instituições", destacou, acrescentando: "Uma alternativa [que temos] é reafirmar a função dos intelectuais, sustentando que é preciso mais pesquisas, mais conhecimento (...). Precisamos de jornalismo e de intelectuais atuando nas redes sociais. Isto significará uma utilização muito mais capaz delas".

O Ministro dos Negócios Estrangeiros português está em São Paulo, onde também participou da cerimónia de entrega da Ordem do Mérito Empresarial da República Portuguesa ao presidente da EDP Brasil, Miguel Setas, visitou o local onde funcionará a primeira escola portuguesa do Brasil e encontrou-se com representantes da comunidade luso-brasileira.

Na sexta-feira, Augusto Santos Silva seguirá para o Rio de Janeiro, onde terá uma série de reuniões oficiais.

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