Em causa está a uma ponte conhecida como "Ponte da Peça Má" localizada em Lantemil, freguesia do Muro, e que servia de ligação ferroviária até a linha de comboio ter sido desativada em fevereiro de 2002.
A Metro do Porto recebeu do Estado os canais ferroviários da antigas linhas da CP da Póvoa e da Trofa, e ainda que o projeto de ligação ao concelho trofense por metro não tenha ido adiante, também "herdou" esta ponte.
Hoje, através de um aviso publicado no Jornal de Notícias, a Metro do Porto alerta para obras no antigo canal ferroviário, apontando que devido a essa empreitada a circulação na Estrada Nacional (EN) 14, que passa exatamente por baixo da ponte e liga os concelhos da Trofa e da Maia, estará "interdita", o que despertou a população do Muro para a possibilidade da ponte ser demolida.
"Ponderamos mesmo fazer um cordão humano à volta da ponte. Já nos roubaram o comboio e não construíram o metro, não podem tirar-nos mais património", referiu o presidente da junta de freguesia do Muro, Carlos Martins, que em declarações à agência Lusa, criticou a intervenção e o facto de o aviso ter sido publicado "a menos de 48 horas da intervenção".
Carlos Martins aponta que a "Ponte da Peça Má" tem "valor histórico e patrimonial", uma opinião partilhada por um dos fundadores da Adapta - Associação para a Defesa do Ambiente e do Património na Região da Trofa, Manuel Silva, que fala em "atentado ao património".
"Não é aceitável o que está a acontecer. Trata-se de uma obra de arte", disse Manuel Silva que é também vereador do PS na câmara da Trofa e, nessa qualidade, desafia o presidente atual eleito pelo PSD/CDS-PP Sérgio Humberto a "travar" a obra da Metro do Porto.
Também a concelhia PS da Trofa, distrito do Porto, em comunicado critica a demolição da ponte considerando que se trata de um "ato atentatório da história e do património", exigindo a suspensão da obra e um estudo sobre "soluções alternativas para manutenção" da infraestrutura.
Os socialistas também recordam que numa Assembleia Municipal de janeiro foi colocada a hipótese de ser constituída uma comissão para avaliar a pertinência ou não da realização de um referendo local sobre o futuro da ponte.
A Lusa contactou a autarquia trofense que remeteu para um comunicado em que se lê que "a demolição do Pontão do antigo caminho-de-ferro, localizado no lugar de Peça Má, na EN14, é da exclusiva responsabilidade da Metro do Porto", tendo esta empresa "no passado" tentado "passagem do ónus da salvaguarda da responsabilidade civil sobre o Pontão, bem como a responsabilidade da manutenção, conservação e limpeza da estrutura para a Câmara Municipal da Trofa, sem qualquer contrapartida".
O executivo de Sérgio Humberto alega que essa passagem "acarretaria um enorme esforço financeiro" com "grave prejuízo para o orçamento municipal" e garante que a ponte "não encerra qualquer valor patrimonial arquitetónico ou cultural, sendo que o próprio Plano Diretor Municipal da Trofa não o qualifica como salvaguarda patrimonial classificada ou em vias de classificação".
"Esta situação não altera em nada a reivindicação da Câmara Municipal da Trofa de continuar a exigir a construção da extensão da linha do metro até ao núcleo central do Concelho", conclui o comunicado.
Também a Metro do Porto, em informação escrita remetida à Lusa, refere que "a infraestrutura não tem - nunca tal foi formal, oficial ou sequer academicamente documentado -, qualquer tipo de valor patrimonial ou arquitetónico" e realça que "pelo contrário, representa uma limitação à circulação automóvel, um fator de congestionamento e uma ameaça à segurança das populações".
"Assim e não tendo recebido, ao longo de mais de 14 anos de discussão e de debate públicos a nível local, qualquer tipo de manifestação de interesse por parte de entidades públicas para receber a propriedade e a responsabilidade pela manutenção da passagem inferior nº 21, entendeu a Metro do Porto promover o estudo das condições da infraestrutura, concluindo pela necessidade imperativa de demolição da mesma", aponta a resposta da Metro.
A empresa refere ainda que a "manutenção representa um encargo para o erário público" e sublinha "o sério risco para a segurança de pessoas e bens".
Os trabalhos deverão decorrer entre sexta e segunda-feira.
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