Temer recebeu hoje, numa reunião de emergência, cerca de 20 embaixadores de países que figuram entre os 150 importadores de carnes brasileiras, para responder a dúvidas suscitadas pelo caso que envolve uma organização criminosa que adulterava esses produtos, tanto para o mercado local, como externo.
Durante o encontro, que decorreu no palácio presidencial do Planalto, em Brasília, o Presidente brasileiro garantiu que as investigações permitiram desmantelar um “pequeno” grupo e sublinhou os rigorosos controlos aplicados a carnes brasileiras, “que foram reconhecidos por todos os importadores”.
Temer precisou que, de 4.837 empresas do setor da carne, apenas 21 estão sob suspeita e que cerca de 30 dos mais de 10 mil funcionários de fiscalização sanitária do país estão implicados no escândalo, conhecido na sexta-feira.
“O objeto da investigação não é o sistema de vigilância sanitária brasileira, mas apenas alguns desvios de conduta de uns quantos funcionários e de umas quantas empresas”, destacou.
“Para tranquilizar os amigos”, Temer referiu que no ano passado saíram do Brasil para exportação 853.000 remessas de carne e apenas 184 “tiveram problemas, mas devido aos rótulos ou assuntos menores, mas em nenhum caso devido à sua qualidade”.
Temer disse que as instalações de todas as empresas de carne que existem no país “estão abertas para inspeções ou visitas dos países importadores” e convidou os embaixadores a jantar ainda hoje num conhecido restaurante de carnes de Brasília.
O chefe de Estado brasileiro acrescentou, além disso, que desde o momento em que o escândalo foi conhecido, todos os controlos sanitários foram reforçados e aumentaram-se as inspeções a empresas, incluindo durante o fim de semana.
Na reunião participaram representantes de oito ministérios, da polícia federal, responsável pelas investigações, e das câmaras empresariais do setor agrícola e alimentar, que é um dos motores da economia do país.
O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e de frango, e o quarto no segmento de carne de porco, com as vendas externas destes três setores a representar no ano passado 7,2 por cento desse comércio, na ordem dos 11,6 milhões de dólares (cerca de 3,5 milhões de euros).
O maior receio do Governo brasileiro é que existam sanções contra as carnes brasileiras, numa altura em que a economia do país dá pequenos sinais de recuperação, após dois anos de uma severa recessão.
De acordo com a polícia federal, funcionários públicos eram subornados por diretores de empresas para darem aval a carnes com prazos de validade já ultrapassados, mas adulteradas.
Entre as práticas, foi comprovado o uso de químicos para melhorar o aspeto das carnes, a falsificação de etiquetas com a data de validade ou a inclusão de alimentos não adequados para consumo na elaboração de enchidos.
No âmbito deste processo, intitulado “Carne Fraca”, aproximadamente 1.100 agentes federais cumpriram 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva (sem tempo para a libertação do acusado), 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva (quando o acusado é preso e obrigado a depor para depois ser libertado) e 194 de busca e apreensão em residências e locais de trabalho dos investigados e em empresas alegadamente ligadas ao suposto grupo criminoso.
Um dos visados, o responsável de relações internacionais e governamentais da Brasil Foods (BRF) — uma das empresas sob investigação -, Roney Nogueira dos Santos, foi detido no sábado, no aeroporto de Guarulhos, São Paulo, depois de se entregar às autoridades, quando chegou de uma viagem ao exterior, noticiou a Agência Brasil.
Outros 21 estabelecimentos estão sob investigação e o Ministério da Agricultura afastou 33 funcionários por envolvimento no esquema.
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