“Tal separação provoca, indubitavelmente, um sofrimento e medo atrozes”, lê-se na missiva, que alerta para a possibilidade desta situação vir a causar “traumas duradouros”.
“Como que para enfatizar a natureza cruel e persersa desta política, o Governo federal [norte-americano] deu ordem aos agentes que trabalham nos abrigos para não tocarem ou agarrarem crianças assustadas", nem "lhes oferecer qualquer espécie de conforto”, escreve Zimler, nascido em Roslyn Heights, no Estado norte-americano de Nova Iorque, e atualmente a viver no Porto.
O objetivo desta política da administração do Presidente Donald Trump é “brutalizar crianças fragilizadas”, lê-se no documento que recolheu mais de cem assinaturas, entre as quais as de Lídia Jorge, Maria Teresa Horta, Mário Cláudio, Luísa Costa Gomes, Ana Zanatti, Possidónio Cachapa, Gonçalo M. Tavares e Rui Cardoso Martins.
No texto, Zimler faz um paralelismo entre a situação existente no regime nazi, liderado por Adolfo Hitler, na Alemanha, em meados do século XX, com a situação vivida na fronteira dos Estados Unidos com o México.
As imagens de rapazes e raparigas separados dos pais "tornaram-se o símbolo do desrespeito pelos Direitos Humanos, levado a cabo pelo Presidente Trump”, e “relembram-nos crimes hediondos cometidos contra a Humanidade noutros países, nomeadamente na Alemanha de Hitler”, lê-se na carta que recorda crianças judias e ciganas que eram retiradas à força dos pais, quando estes entravam nos campos de concentração.
A carta, subscrita entre outros, por Eduardo Pitta e Maria do Rosário Pedreira, alerta para as cerca de 1.500 crianças que atravessaram a fronteira mexicano-norte-americana sem companhia de adultos e, apesar de terem sido colocadas à guarda de tutores nos Estados Unidos, as autoridades de Washington perderam a sua localização.
Os Serviços Sociais admitiram em abril que, poucos meses depois de serem transferidos para famílias de acolhimento, foi perdida a pista de 1.475 crianças que tinham chegado completamente sozinhas aos EUA, por os tutores nomeados não atenderem o telefone.
Para Zimler e para os mais de cem subscritores, esta situação devia ter sido um alerta para a incapacidade do Governo federal pôr em prática uma política de “tolerância zero”, e separar filhos e pais migrantes.
Os escritores e editores portugueses, entre os quais Guilhermina Gomes, Vasco David e Cecília Andrade, manifestam desta forma o seu “protesto” por este “tratamento desumano”, e mostram-se esperançosos no fim desta política “ultrajante e indesculpável”, pelos protestos de “dezenas de milhões de americanos solidários e compassivos”.
Segundo o Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos, citado pelos subscritores, cerca de 3.000 crianças foram separadas dos seus familiares, nos últimos dois meses, ao entrarem sem autorização nos Estados Unidos, a partir do México.
Entre os mais de cem subscritores estão também os nomes de Mário de Carvalho, Afonso Cruz, Jacinto Lucas Pires, Ana Margarida Carvalho, Ana Nobre Gusmão, Rui Zink, José Eduardo Agualusa, Júlia Monginho, Nuno Saraiva, Miguel Real, Rita Ferro, Inês Pedrosa, Ana Pereirinha, Manuel Alberto Valente e Rui Couceiro, entre outros.
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