“Há 46 anos, Hassan II (antigo rei) organizou a chamada ‘Marcha Verde’, instrumentalizando milhares de cidadãos marroquinos para invadir a colónia espanhola do Saara Ocidental. Agora, o seu filho serve-se dos seus súbditos para “invadir” o país vizinho, aquele mesmo que lhe ofereceu um território por descolonizar e sempre o tem apoiado política e economicamente”, afirmou a organização não-governamental (ONG), em comunicado enviado à agência Lusa.

O documento, intitulado “A fúria de Marrocos descodificada”, garante que a “diplomacia marroquina foi explícita” ao permitir a entrada de migrantes em Ceuta, como represália contra o Estado espanhol por ter acolhido o líder da Frente Polisário, Brahim Gali, hospitalizado em Espanha.

“Rabat tem os nervos em franja, quer mais dos seus aliados. Quanto mais estes lhes derem, tentando apaziguá-lo, mais exigirá. Tal como na questão palestiniana, só o cumprimento do Direito Internacional oferecerá uma solução de paz entre os povos. O que diz a tudo isto a presidência da União Europeia?”, questionou a ONG.

A pressão migratória na fronteira de Ceuta com Marrocos diminuiu na quarta-feira, após a entrada sem precedentes de cerca de 8.600 imigrantes ilegais em dois dias.

A maior parte dos migrantes, cerca de 5.600, foi posteriormente devolvida a Marrocos.

A tensão entre Espanha e Marrocos também diminuiu face à presença de unidades antimotim das forças de segurança marroquinas, após Rabat ter decidido reativar o controlo fronteiriço.

A origem desta última crise entre Espanha e Marrocos está relacionada com a permanência em Madrid do secretário-geral da Frente Polisário, Brahim Ghali, por motivos de saúde.

Hoje a ministra espanhola reiterou que Brahim Gali está em Espanha por "razões humanitárias", em circunstância prevista no direito internacional.

Ceuta e Melilha, as únicas fronteiras terrestres da União Europeia com África, são regularmente palco de tentativas de entrada de migrantes, mas a maré humana de segunda-feira não tem precedentes.

A Frente Polisário, considerada como um grupo terrorista por Rabat, reivindica o direito à autodeterminação no Saara Ocidental, território que foi colónia espanhola e posteriormente ocupado pelo Marrocos.