Foi a bordo do navio de resgate Sea Watch 3, atracado num porto de Malta, que explicou à agência Lusa porque se voluntariou para esta missão.
“Vim para o Sea Watch 3 porque percebi que isto era uma catástrofe humanitária que estava a acontecer às nossas portas e achei que podia contribuir de forma útil”, afirmou, acrescentando que se “identificou” com a missão e destacando o facto de se tratar de uma “organização fidedigna”.
No entanto, a médica do hospital Pedro Hispano, de Matosinhos, distrito do Porto, não chegou a sair dos estaleiros de Bezzina (Paola) onde o navio da organização não-governamental ONG alemã com o mesmo nome está bloqueado pelas autoridades maltesas desde o dia 02 de julho, alegadamente sem bases legais
Mesmo prevenida para essa possibilidade, Catarina Paulo, que ainda nos tempos de estudante apoiou a Cruz Vermelha e já esteve em missões de voluntariado com a ONG portuguesa AMI, no Brasil, e com a ONG francesa Médicos Sem Fronteiras na República Democrática do Congo (RDCongo), decidiu usar algumas folgas para vir apoiar a missão.
Tinha “esperança de que a situação se resolvesse” e recusou-se a assistir impassível à tragédia.
“Há mortos todos os dias, as pessoas vêm desesperadas em botes sem condições, de madeira ou de borracha e sem serem resgatadas acabam por morrer”, salienta, mostrando o mini-hospital do navio, equipado para socorrer mesmo os casos mais graves.
“O principal problema são queimaduras gravíssimas, pela gasolina, dejetos, vómitos (…) Muitas destas pessoas nunca viram o mar e têm muitas náuseas e vómitos. Tudo isto é corrosivo e quando chegam trazem queimaduras (…) que chegam a ser de segundo e terceiro grau”, relata a médica, que está a terminar a especialidade em doenças infecciosas e trabalha em emergência pré-hospitalar no hospital Pedro Hispano.
Também comuns são as gastroenterites agudas, os casos de desidratação e situações de pré afogamento.
Além do gabinete de emergência, o Sea Watch 3, dispõe de uma sala de recuperação para os casos menos graves onde é possível fazer fluidoterapia.
“É uma espécie de substituição de fluidos para pessoas que vêm muito desidratadas para ajudar a que o organismo consiga ter água suficiente para funcionar da melhor forma”, esclarece a médica, de 31 anos, acrescentando que “o hospital está muito bem preparado para as situações que habitualmente se vêm”.
Desta vez, Catarina Paulo teve de regressar a casa sem conseguir cumprir a sua participação cívica.
Mas promete voltar, “provavelmente no final do ano”, para prestar cuidados médicos a quem deles necessita.
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