A peregrinação integra a peregrinação nacional do migrante e do refugiado, o momento mais aguardado da 52.ª Semana Nacional das Migrações, que começou no domingo e termina no dia 18, este ano subordinada ao tema “Deus caminha com o seu povo”.

Este é o título da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que se assinala em 29 de setembro.

As celebrações no Santuário de Fátima começaram às 21:30, com a recitação do terço, na Capelinha das Aparições, seguindo-se a procissão das velas e a celebração da palavra, no recinto de oração.

Na homilia da celebração da palavra, na peregrinação internacional de 12 e 13 de agosto, D. Virgílio Antunes disse que a guerra, as perseguições e a discriminação fazem desejar uma humanidade nova, considerando que em matéria de migrações o mundo tem “responsabilidade acrescida” por conhecer as “experiências negativas do passado”.

“Trazemos em mente a guerra, as perseguições, a discriminação de pessoas e de povos por muitas e diversas razões sem sentido, trazemos ainda os atentados contra a vida, contra a integridade dos irmãos, e tudo isso nos faz chorar com os que sofrem, tudo isso nos faz desejar uma humanidade nova, tudo isto nos faz suplicar à Virgem de Fátima que não permita que se adense ainda mais a noite escura da humanidade, mas que faça brilhar desde já a claridade do futuro”, afirmou.

O bispo de Coimbra salientou que, “de entre as sombras que obscurecem pessoas e povos, sobressai na atualidade (…) a experiência dramática dos refugiados e exilados devido à guerra, à fome, às perseguições, às injustiças, às políticas totalitárias, às condições de vida absolutamente desumanas”.

Para o presidente das celebrações, que integram a peregrinação nacional do migrante e do refugiado a Fátima, “o facto de, ao longo de todos os períodos da História, sempre ter havido fenómenos semelhantes a este, não diminui em nada a magnitude do problema, nem a responsabilidade da comunidade humana”.

“Hoje, podemos dizer que temos ainda uma responsabilidade acrescida por conhecermos as experiências negativas do passado e por estarmos no topo, pelo menos do ponto de vista cronológico, do nosso percurso civilizacional, embora tenhamos de reconhecer que, em alguns aspetos, houve, continua a haver, muitos retrocessos”, defendeu na celebração da palavra, antecedida da recitação do terço e da procissão de velas, perante cerca de 45 mil fiéis, segundo dados do santuário.

O também vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa sublinhou que “em Portugal, na Europa e em tantos outros lugares do mundo” se conhece “esta realidade das migrações forçadas, a realidade dos refugiados e exilados”, não somente pelos meios de comunicação social, mas também direta e pessoalmente.

“Todos os dias contactamos com pessoas – homens, mulheres e crianças – que não são somente migrantes por vontade própria, por vontade livre, pelo desejo legítimo de procurar melhores condições de vida para as famílias. Temos vizinhos que são refugiados e exilados, trabalhamos com eles, encontramo-nos com eles nos mesmos bancos das igrejas, nas mesmas enfermarias dos hospitais, as crianças sentam-se às mesmas carteiras das salas de aula e brincam nos mesmos recreios das escolas”, realçou.

Citando a Bíblia, o bispo de Coimbra lembrou que “para Deus não há estrangeiros”, mas “somente homens e mulheres que caminham sobre esta terra, uns porventura beneficiados pelas possibilidades de uma vida pacífica e com condições normais para a sua peregrinação, e outros que fogem do passado e almejam um presente e um futuro mais felizes”, para notar que embora hoje se fale da “igual dignidade de todos”, este “é ainda sonho por concretizar”.

Antes, ao referir-se à vigília de Fátima, de cujo santuário já foi reitor, realçou que aqui se sente “pulsar o coração do mundo na diversidade de rostos e das experiências de vida”, pois “aqui chegam as maiores alegrias, mas também as maiores dores, aqui se agradece e aqui se suplica, aqui às vezes aflora mesmo a revolta interior, mas também a possibilidade de se pacificar o coração”, acrescentando que neste templo a Virgem “deixou ao mundo uma réstia de claridade, promissora de esperança”.

Amanhã, terça-feira, as cerimónias religiosas iniciam com a procissão eucarística no recinto, às 07:00 e, duas horas depois, o terço, na Capelinha.

A missa, com a bênção dos doentes e a procissão do adeus, encerra a peregrinação, que também é conhecida como peregrinação dos emigrantes, e na qual se cumpre uma tradição iniciada há 84 anos por um grupo de jovens da Juventude Agrária Católica de 17 paróquias da então diocese de Leiria, a oferta de trigo.

No ano passado, foram oferecidos ao Santuário de Fátima 5.635 quilogramas de trigo e 477 quilogramas de farinha, divulgou o templo mariano.

D. Virgílio Antunes, de 62 anos, é também vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e foi reitor do Santuário de Fátima entre setembro de 2008 e junho de 2011, templo onde recebeu o Papa Bento XVI (1927-2022) em 2010.