O anúncio do plano, em janeiro, liderado pela coligação do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, que inclui partidos de extrema-direita e judeus ultraortodoxos, desencadeou um dos maiores movimentos de protesto da história do país, que mobiliza dezenas de milhares de manifestantes todas as semanas.

Segundo o governo, a reforma visa, entre outras coisas, reequilibrar poderes, ao reduzir as prerrogativas do Supremo Tribunal Federal, que o executivo considera politizadas, em favor do Parlamento. Mas os seus detratores acreditam que com aquela reforma o país corre o risco de abrir um caminho para uma deriva antiliberal ou autoritária.

“Democracia, Democracia!”, gritavam hoje os manifestantes que se dirigiam para a Kaplan Street em Telavive. “Não vamos desistir até que a situação melhore. Saia da varanda, o país está em colapso”, gritaram novamente.

“Apesar de meses de protestos, as coisas não estão a ir como queríamos, porque uma parte significativa da reforma do sistema judicial foi aprovada [no parlamento] há algumas semanas”, afirmou à AFP um manifestante, Ben Peleg.

“Mas se continuarmos a fazer pressão nas ruas, é possível que ainda consigamos travar estas mudanças”, espera este médico de 47 anos.

Uma primeira cláusula do projeto, que limita a possibilidade de o Supremo Tribunal invalidar uma decisão do governo, foi adotada pelo Parlamento.

O processo legislativo está atualmente suspenso devido às férias de verão do parlamento, com Netanyahu a prometer estar aberto a negociações sobre etapas futuras.

Os protestos foram apoiados por opositores políticos, grupos civis e religiosos, operários e trabalhadores da área das tecnologias, ativistas pela paz e militares na reserva.

Esses meses de protestos, conjugados com manifestações de apoio ao governo, levantaram receios de que se aprofundem as divisões na sociedade israelita.

“Israel está dilacerado e sentimos que estamos à beira de uma guerra civil”, acrescentou Peleg. “Quando saímos às ruas para protestar, temos medo de quem apoia o governo. Esse governo tem que ser derrubado.”