Em Hong Kong, Phoebe, uma médica de 40 anos, afirma estar consternada com as mensagens recebidas nos últimos dias no grupo da sua família no Whatsapp.
"Vi uma informação que aconselhava o uso de secador para desinfectar o rosto e as mãos. Ou beber água quente a 60 graus para não ficar doente", conta à AFP a profissional da área da saúde, que prefere não revelar o apelido.
Como médica, sabe naturalmente que nenhum destes procedimentos é eficaz e que podem inclusive ser perigosos, o que a levou a alertar os familiares.
Mas quantas mensagens deste tipo são espalhadas atualmente na internet ou em aplicações de mensagens? Desde o anúncio, no início de janeiro, do surgimento do novo coronavírus na cidade chinesa de Wuhan, as falsas informações invadiram a rede.
Cristina Tardáguila, do Poynter Institute, afirma que mais de 50 organizações que realizam "fact-checking" em três países registraram "três ondas" de informações falsas.
"Uma sobre as origens do vírus, outra sobre uma falsa patente de medicamentos e uma terceira sobre a forma de prevenir ou curar", explica à AFP.
As informações falsas e as consequências
Os jornalistas responsáveis pelo "fact-check" na AFP detectaram várias informações falsas.
Uma delas, que circulou no Sri Lanka, afirmava que os 11 milhões de habitantes de Wuhan iriam morrer.
Outra alegava que vários produtos alimentícios e localidades australianas seriam contaminados pelo novo coronavírus ou que uma solução salina permite evitar o contágio. Algumas informações alimentam preconceitos sobre hábitos alimentares ou propagam estereótipos racistas.
As imagens, reproduzidas por alguns tablóides ocidentais, pretendem demonstrar que o apetite de alguns chineses por animais exóticos está na origem da crise. O vídeo, na realidade, foi feito em 2016 no arquipélago de Palau, para um blog.
Embora a tradição culinária chinesa utilize vários ingredientes ignorados ou desprezados noutros países e a venda de animais em mercados seja considerada preocupante, o morcego não é consumido com muita frequência.
Na Austrália, que tem uma importante comunidade chinesa, as informações falsas multiplicam-se.
Na segunda-feira, um deputado de Brisbane advertiu os seus eleitores contra um comunicado de imprensa falso no qual supostamente o ministério da Saúde alertaria a população contra os riscos de frequentar bairros com forte concentração de pessoas de origem chinesa.
"Ter falsas informações divulgadas por pessoas racistas cria um sentimento de medo e incerteza", disse o deputado à AFP.
Na internet, alguns sites de extrema-direita apoderaram-se da epidemia.
Uma das primeiras informações falsas divulgadas foi a existência de uma vacina contra o novo coronavírus que teria sido patenteada em 2015. Mas, na verdade, a patente era sobre um coronavírus detectado entre aves.
Hal Turner, apresentador de uma rádio de extrema-direita acusada de apoiar supremacistas brancos, publicou um artigo na internet em que afirmava que 112.000 pessoas já morreram na China e que 2,8 milhões foram colocadas em quarentena.
As manchetes dos sites sensacionalistas e a histórica desconfiança a respeito do governo chinês facilitam a propagação de boatos, afirma o sociólogo neozelandês Robert Bartholomew.
"Para muitas pessoas, as principais fontes de informação são as redes sociais conhecidos por veicular informações não verificadas", completa.
Para as autoridades da área da saúde, o fluxo incessante de falsas informações complica o trabalho.
"Em Taiwan, as pessoas começam a ligar para os hospitais ou agências governamentais com muitas perguntas, o que mobiliza preciosos recursos humanos", afirma Kevin Hsueh, diretor do hospital Cardinal Tien em Taipé.
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