“Em decorrência da agressão física sofrida no dia 25 de novembro do ano transato no Quartel do Morro, o militar, que tudo fez para impedir a alegada tentativa de golpe de Estado, […] teve, segundo o laudo médico, um trauma crânioencefálico, motivo pelo qual o Estado-Maior das Forças Armadas decidiu pela evacuação do capitão Marcelo da Graça para o hospital militar das Forças Armadas portuguesas para melhor acompanhamento médico”, indica uma nota do Ministério da Defesa e Administração Interna, divulgada ao início da noite de segunda-feira.

“Marcelo da Graça deverá deixar o país ainda esta semana”, acrescenta a nota.

O Governo são-tomense promoveu na segunda-feira Marcelo da Graça, alvo de agressões, e Carla do Espírito Santo pelo desempenho demonstrado na defesa da pátria durante o assalto ao quartel militar ocorrido em 25 de novembro.

“O país reconhece, o exército reconhece, todos reconhecemos o desempenho que tiveram durante a fatídica madrugada do dia 25 de novembro. Assim como todos juraram defender a pátria, mesmo que fosse pelo próprio sangue, na base desse juramento e da educação que tiveram nas Forças Armadas, assim o fizeram”, sublinhou o ministro da Defesa e Administração Interna de São Tomé e Príncipe, Jorge Amado.

Na madrugada de 25 de novembro, quatro homens atacaram o quartel das Forças Armadas, na capital são-tomense, num assalto que as autoridades classificaram como tentativa de golpe de Estado.

Segundo a acusação do Ministério Público são-tomense, já no interior do quartel, os homens tomaram posse de armas e fizeram refém o oficial de dia, tenente Marcelo da Graça, que foi “espancado” e amordaçado com “fita isoladora” e que “percebeu que não conseguiria resistir aos seus agressores, decidindo manter-se no chão e fingir-se de morto”.

Durante a noite, houve várias trocas de tiros entre os militares e os atacantes.

As negociações com os assaltantes para que libertassem o tenente e se rendessem prolongaram-se até ao amanhecer, tendo sido arremessadas duas granadas de gás lacrimogéneo para o interior do gabinete onde se encontravam.

Só após o rebentamento da porta, com TNT, os assaltantes se renderam e o tenente foi resgatado, tendo sido levado para o hospital Ayres Menezes, onde ficaria internado, com “20 dias de doença”. O militar ficou com cicatrizes na cabeça e na orelha “como consequências permanentes”.

O Ministério da Defesa são-tomense destaca na nota que a soldado Carla Espírito Santo “se colocou entre os militares traidores e o senhor primeiro sargento Elaique de Sousa, sargento de dia, obstruindo a linha de tiro, impedindo que fosse alvejado”.

“Entregaram-se a essa luta, dando praticamente as suas vidas e hoje estamos aqui dando louvores e promovendo-os por este facto, por este ato”, destaca o ministro da Defesa.

Marcelo da Mata foi promovido a capitão, enquanto Carla Espírito Santo foi promovida a segundo cabo.

“Estamos cientes de que muitos seguirão esse caminho, por isso aqueles que saíram em defesa da pátria estão de parabéns e o país sente-se orgulhado pelos seus filhos”, concluiu o ministro da Defesa.

Os militares promovidos mostraram-se honrados com a distinção do Estado são-tomense.

Após o assalto ao quartel, três dos quatro atacantes e um outro homem detido posteriormente pelos militares foram alvos de maus-tratos e acabaram por morrer, quando se encontravam sob custódia. Na semana passada, o Ministério Público (MP) são-tomense acusou 23 militares, incluindo o ex-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Olinto Paquete e o atual vice-chefe do Estado-Maior, pela tortura e morte dos quatro homens.

Sobre o ataque, o MP já tinha acusado em fevereiro nove militares e um civil de envolvimento no assalto ao quartel das Forças Armadas, sete dos quais acusados do crime de homicídio qualificado na forma tentada.