A iniciativa resulta de um pedido feito pelas autoridades guineenses ao instituto Camões, de Portugal, e visa ajudar os militares a falar e escrever na língua que é a oficial da Guiné-Bissau, mas que poucos guineenses dominam.
Foi esta constatação que levou as Forças Armadas a pedir apoio para “qualificar oficiais, sargentos e soldados, em língua portuguesa”, como explicou à Lusa o coronel Suaibo Camará.
A chefia militar salientou a importância e utilidade do curso que arrancou na sexta-feira, em Bissau, com 60 alunos, para dar resposta à necessidade de as Forças Armadas terem pessoas “com maior eficiência” no domínio e na escrita, assim como na administração da língua portuguesa.
“A dificuldade é global, começa no próprio ensino, nós não temos pessoas com níveis de licenciado na língua portuguesa e, nesse âmbito, as pessoas saem mal dos ensinos primários, secundários e liceais, então, têm dificuldades em trabalhar com a língua portuguesa, como língua oficial nossa”, indicou.
No país domina o crioulo e, apesar de a língua oficial ser a portuguesa, “é difícil ter uma pessoa que possa fazer uma ata, um relatório síntese, um relatório descritivo, por escrito” em português, como constatou.
Um dos alunos do curso, o soldado Rúmana Biagué, corrobora que “as pessoas já saem mal do ensino” em relação à aprendizagem da língua portuguesa e observa que “até na universidade se encontram pessoas com dificuldades na oral e escrita”.
“Se a base não foi boa, o topo será a mesma coisa, e é isso que nos leva a ter dificuldades”, diz à Lusa, considerando que este curso nos quartéis é “muito benéfico e importantíssimo” para capacitar os militares.
Para este soldado, “saber falar bem português é indispensável, para um militar”, que tanto pode estar em missão na Guiné-Bissau, como noutro país de expressão portuguesa.
As Forças Armadas da Guiné-Bissau querem ter militares capacitados e esperam “ter mais oito turmas” em várias zonas do país, “já em janeiro”.
Esta iniciativa “no domínio da cooperação militar, do ensino da língua portuguesa, é para Portugal essencial para aproximar ambos os países”, segundo André Costa Monteiro, chefe de missão adjunto da Embaixada de Portugal em Bissau.
“Vemos esta iniciativa como um pontapé de saída no domínio do ensino da língua portuguesa e espero que se desenvolva no futuro. Isto é essencial para aproximar os militares portugueses dos guineenses, dando-lhes uma ferramenta de trabalho”, considerou.
Segundo o diplomata, “é do interesse português que esta iniciativa seja iniciada e desenvolvida no futuro, se for do interesse das autoridades guineenses que continue e que seja aprofundada”.
Destacou ainda o trabalho desenvolvido antes do início deste curso, dando como exemplo concreto os manuais desenvolvidos pelo instituto Camões, com o apoio da Direção-geral de Política de Defesa Nacional (DGPDM) portuguesa e dos três ramos das Forças Armadas de Portugal.
Este manual, como disse, “vai permitir formar muitos alunos”, não só na Guiné-Bissau, mas também noutros Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) que tenham interesse.
O professor Miguel Gama, responsável por uma das turmas em Bissau, atestou que o manual “responde às quatro competências da oralidade e da escrita, da leitura, e ajuda a ultrapassar as dificuldades que os alunos apresentam”.
Considerou, contudo que este “curso só em si não resolve o problema, porque a língua tem a questão da prática”.
“O curso dá bases, dá ferramentas, mas eles (alunos) têm que continuar a usar a língua na comunicação do dia-a-dia”, alertou.
Este projeto é, para o professor, “diferente de uma sala de aula normal”, desde logo porque decorre no meio militar com formandos que têm que se dividir “entre as aulas e as tarefas militares”.
*Por Helena Fidalgo (texto) e Júlio de Oliveira (vídeo), da agência Lusa
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