Os Centros de Responsabilidade Integrada são estruturas dependentes dos conselhos de administração dos hospitais, mas assumem compromissos de desempenho assistencial, económico e financeiro – como acontece com as Unidades de Saúde Familiar. Além de ajudarem a reformar o Serviço Nacional de Saúde, são mais atrativos para fixar os profissionais, que recebem incentivos financeiros pelo desempenho.

Até ao momento, há 40 equipas neste regime, mas o Ministério da Saúde quer que sejam 100 até 2026, avança o Diário de Notícias (DN).

Para chamar os profissionais de saúde — que voluntariamente aceitam trabalhar sob determinadas regras de gestão —, vão ser garantidos incentivos remuneratórios e condições de trabalho.

O secretário de Estado da Saúde, Ricardo Mestre, assume ao DN que "os CRI são uma prioridade do governo. Fazem parte da lógica de reorganização do SNS para modernizar a gestão interna dos hospitais, que são por si unidades muito complexas".

Para já, os CRI envolvem equipas de cirurgia geral, oftalmologia, ortopedia, urologia, nefrologia, entre outras. Porém, o novo pacote que o Governo está a preparar destina-se "ao desempenho global da atividade, quer em relação ao que é feito na atividade normal como na adicional", explica.

Assim, pretende-se "conquistar outras áreas, nomeadamente as áreas médicas para que aceitem funcionar na lógica deste modelo de gestão", acrescenta Ricardo Mestre. Assim, os CRI deverão passar a integrar equipas dos serviços de Urgência, Pediatria, Medicina Interna, Saúde Mental, Hospitalização Domiciliária, e até Ginecologia-Obstetrícia.

"A ideia é universalizar este modelo, fazer com que os hospitais tenham o máximo possível deste tipo de unidades. É uma gestão mais moderna, fica dentro das quatro paredes hospitalares, traz motivação aos profissionais e satisfação ao utente", remata o secretário de Estado da Saúde.

De recordar que responsáveis de diversos Centros de Responsabilidade Integrada juntaram-se numa associação, que pretende ajudar a reorganizar e regenerar os serviços de saúde nos hospitais e espera conseguir ter impacto nas urgências e nos cuidados primários.

“Não é a única solução, mas é uma das soluções. Através dos CRI pode haver uma reorganização e uma regeneração dos serviços de saúde a nível hospitalar”, disse, em declarações à Lusa, Varandas Fernandes, que dirige o CRI de Traumatologia Ortopédica do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central.

Varandas Fernandes adianta que a principal missão da associação (CCRIA - Convergência dos Centros de Responsabilidade Integrada Associação), que será criada esta semana, é acompanhar, dinamizar e promover os CRI, sublinhando a importância de funcionarem com equipas multidisciplinares.

Dá o exemplo do CRI que dirige e explica: “temos um farmacêutico, um colega da medicina interna, uma assistente social, uma nutricionista. É uma visão alargada de abordar um doente, não apenas pela patologia que apresenta quando entra num hospital".

“Por vezes, quando chega, o doente já traz muitas doenças de base”, lembra o responsável, insistindo que [com os CRI] os resultados acabam por aparecer, não só na demora média [dos casos], como nas taxas de mortalidade: “E isto acabará por ter sempre um bom reflexo ao nível dos cuidados primários de saúde e dos serviços de urgência”, insiste.

Quanto aos profissionais, diz, sentem-se mais realizados porque têm remunerações adicionais. “Têm suplementos remuneratórios consoante a atividade prestada e este pode ser um dos caminhos para ajudar a regenerar e a reformar o SNS”.

Varandas Fernandes considera que o SNS “precisa de uma regeneração interna, de estruturas orgânicas intermédias que deem uma vitalidade e impulsionem novos métodos e novas organizações”, defendendo que os CRI são uma das soluções.

O especialista sublinha a necessidade de criar Centros de Responsabilidade Integrada em áreas médicas onde não existem, assim como de fazer evoluir os CRI cirúrgicos.

No arranque, a associação já conta, entre outros, com os responsáveis de alguns CRI espalhados pelo país, como é o caso dos do Hospital Garcia de Orta (de Medicina Nuclear, Otorrinolaringologia, Dermatologia e Oftalmologia), do Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga (CRI de Tratamento Cirúrgico de Obesidade e Doenças Metabólicas), Centro Hospitalar São João (Patologia Mamária, Obesidade) e Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (de Psiquiatria e Oftalmologia).