"Conforme os factos relatados no ponto anterior, considero que os mesmos poderiam enquadrar-se nos delitos de lesões leves e graves, duplamente agravadas, e ameaças coativas", expôs no texto o procurador Ramiro González, que aguarda a assinatura do juiz encarregado do caso, Julián Ercolini, para tornar efetivo o indiciamento.
"Trata-se de um requerimento fiscal de imputação; agora cabe ao juiz decidir", explicou à AFP uma fonte próxima ao caso, que pediu anonimato e assegurou que é muito improvável que o juiz rejeite o pedido.
O procurador apontou que Yáñez "sofreu uma relação marcada por hostilidade, assédio psicológico e agressões físicas, num contexto de violência de género e intrafamiliar" por parte de Fernández.
No dia 6 de agosto, a ex-primeira-dama denunciou o ex-presidente por violência física e psicológica, e no dia 8 foram publicadas pela imprensa local supostas conversas e fotos nas quais aparece com ferimentos no rosto e no braço, o que gerou um alvoroço na liderança política argentina, que se manifestou de maneira unânime em repúdio a Fernández.
Na segunda-feira, a denunciante apresentou um documento de 20 páginas detalhando as circunstâncias das agressões e um dia depois prestou o seu primeiro depoimento direto a partir de Madrid, onde vive atualmente, a González.
Fernández negou ter agredido fisicamente Yáñez numa entrevista ao jornal espanhol El País e noutra ao site local El Cohete a la Luna.
No documento, o promotor descreveu nove episódios de violência que Yáñez alega ter sofrido, destacando um aborto forçado por Fernández através de "um plano que envolvia desprezo, negação da palavra, assédio e frases como 'isso precisa de ser resolvido, tens de abortar'".
González também mencionou dois episódios de 2021, em que Fernández terá segurado Yáñez pelo braço e golpeado a mulher no olho, causando lesões visíveis.
Pelo menos uma dessas lesões terá sido fotografada por Yáñez e enviada à secretária particular de Fernández, María Cantero.
Foi a partir do telemóvel de Cantero que a investigação sobre a suposta violência de Fernández começou, pois o juiz Ercolini encontrou essa foto e outras mensagens relatando agressões por parte do ex-presidente e entrou em contato com Yáñez para informá-la. Inicialmente, Yáñez não quis apresentar a denúncia, mas depois mudou de ideia.
Outro incidente impactante relatado pelo procurador González ocorreu, segundo Yáñez, em 12 de agosto de 2021, quando o ex-presidente terá dado um pontapé no seu abdómen, "sabendo que ela poderia estar grávida naquele momento".
Esse facto ocorreu no mesmo dia em que foi revelada à imprensa a chamada "foto de Olivos", onde Fernández e Yáñez aparecem com várias pessoas numa festa de aniversário na residência presidencial, quando as reuniões estavam proibidas devido à pandemia de covid-19.
O procurador González convocou a mãe de Yáñez, Miriam Yáñez Verdugo, que reside com ela atualmente em Madrid, para depor.
Também será convocado o Dr. Federico Saavedra, médico da Unidade Médica Presidencial, que terá atendido Yáñez após uma das supostas agressões cometidas por Fernández.
Além disso, serão chamados para depor María Cantero e Daniel Rodríguez, funcionários da Quinta de Olivos, localizada nos arredores de Buenos Aires e onde Fernández e Yáñez viveram entre 2019 e 2023.
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