O anúncio da abertura deste “inquérito preliminar”, na quarta-feira, por um tribunal de Madrid, levou o líder do Governo espanhol, Pedro Sánchez, a afirmar que pondera abandonar o cargo, prometendo uma declaração pública sobre o seu futuro na próxima segunda-feira.
A investigação judicial à mulher de Pedro Sánchez, Begoña Gómez, resulta de uma queixa por alegado tráfico de influências apresentada pela associação “Mãos Limpas”, conotada com a extrema-direita espanhola.
A associação disse hoje que a queixa que apresentou no início deste mês se baseia em conteúdos de meios de comunicação digitais e comentários em programas de televisão.
Admitindo que as alegações podem ser falsas, a associação disse que a responsabilidade é dos meios que as publicaram e que, de qualquer forma, é para apurar a sua veracidade que deve servir a investigação judicial.
O Ministério Público pronunciou-se hoje pelo arquivamento do caso e isso mesmo pediu ao juiz de instrução, segundo fontes citadas por vários meios de comunicação social espanhóis.
Os procuradores argumentaram que não há indícios de delito que justifiquem a abertura de um procedimento penal, segundo a agência de notícias EFE, que cita fontes conhecedoras do caso.
Em causa estão alegadas ligações de Begoña Gómez a empresas privadas, como a companhia aérea Air Europa, que receberam apoios públicos durante a crise da pandemia ou assinaram contratos com o Estado quando Sánchez era já primeiro-ministro.
Num texto publicado na rede social X, Sánchez atribuiu a investigação judicial que envolve a mulher a uma perseguição e uma campanha da direita e da extrema-direita, alimentada pelo Partido Popular (PP) e pelo Vox.
O primeiro-ministro socialista, no cargo desde 2018, disse precisar de “parar e refletir” para responder à pergunta de se deve e se vale a pena continuar à frente do Governo “apesar do lodaçal em que a direita e a extrema-direita pretendem transformar a política”.
Sánchez disse que a mulher e ele próprio estão há meses a ser vítimas da “máquina de lodo” do PP e do Vox e acusou os dois partidos de “uma operação de assédio e destruição” pessoal porque não aceitam os resultados das últimas eleições e perceberam que “o ataque político não seria suficiente”.
PP e Vox acusaram-no de estar a vitimizar-se e a fazer “um espetáculo” que envergonha Espanha internacionalmente para desviar as atenções de várias suspeitas de corrupção, em vez de prestar esclarecimentos.
Além desta suspeita que envolve a mulher, Sánchez tem sido atacado por causa de uma investigação judicial a um assessor de um ex-ministro socialista que alegadamente cobrou comissões ilegais a vender máscaras durante a pandemia a entidades públicas, incluindo governos regionais então nas mãos do PSOE.
Este caso levou à criação de comissões de inquérito no parlamento, apoiadas pelos socialistas, sobre a compra de material sanitário pelas administrações públicas durante a crise da covid-19. Os trabalhos destas comissões arrancaram esta semana.
Desde que admitiu a possibilidade de demissão, Sánchez recebeu o apoio dos partidos da ‘geringonça’ parlamentar que em novembro passado lhe viabilizou o atual governo e que lhe pediram para não se demitir.
Está a haver também mobilização de dirigentes e estruturas do PSOE, com manifestações públicas de apoio ao primeiro-ministro e apelos a manifestações no sábado.
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