Dalila Rodrigues afirmou que o Estado “está atentíssimo”, depois de questionada pelos jornalistas, em Vila Real, sobre o leilão, escusando-se a responder se vai participar nesse leilão.
“Se há bens culturais do Estado português dispersos por várias outras geografias nós devemos fazer um esforço para os comprarmos, mas também deixe-me dizer que nunca é uma boa política, quando uma obra de arte vai a leilão, que se pronunciem os profissionais acerca da sua compra ou não, porque isso vai obviamente inflacionar o preço do bem cultural a leilão”, referiu, depois de uma reunião com a companhia Filandorra – Teatro do Nordeste.
A tela “Descanso em Fuga para o Egito”, de Domingos Sequeira, datada de 1824, vai hoje a leilão, em Lyon, em França, com uma base de licitação entre os três e os cinco mil euros.
“Um museu morto é um museu que não conserva os seus bens culturais e fundamentalmente que não os reapropria e dota de novos significados à luz da contemporaneidade”, salientou ainda a ministra.
Dalila Rodrigues frisou ainda que é preciso “conservar, preservar e interpretar, ou seja, apropriar e dotar de novos significados e logo a seguir evidentemente que as coleções se querem ampliadas”.
O diretor do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), Joaquim Caetano, manifestou interesse na tela, ao semanário Expresso, que avançou a notícia, e afirmou que pretende participar no leilão.
A leiloeira francesa Artèncheres refere que a tela fez parte de uma exposição em 1824, em Paris, contudo “fora do catálogo”. Nesta exposição, a tela “A Morte de Camões” valeu a Domingos Sequeira (1768-1837) a Medalha de Ouro.
A Artèncheres afirma que a tela “Descanso em fuga para o Egito” “é uma redescoberta importante, pois, como atesta a data, é a segunda tela conhecida da época da estadia [do pintor] em Paris” e foi citada num catálogo da exposição “Sequeira Um Português na Mudança dos Tempos” que esteve patente no MNAA, em 1987.
A Artèncheres afirma que “a tela é coberta por uma rede de finas fissuras em toda a sua superfície”, acrescentando que “estas provocaram, em certas ocasiões, uma retração da camada pictórica, favorecendo a criação de pequenas ranhuras (nomeadamente na parte superior esquerda) que foram preenchidas de forma bastante desajeitada por um restauro antigo, provocando assim alguns ligeiros retoques”.
Em 2023 e 2024, uma outra obra do pintor esteve envolvida em polémica: “Descida da Cruz” (1827) foi autorizada pela então Direção-Geral do Património Cultural a sair do país, contrariando pareceres de especialistas.
O quadro esteve à venda na Feira de Arte e Antiguidades da European Fine Art Foundation, em Maastricht, nos Países Baixos, tendo sido adquirido, em março do ano passado, pela Fundação Livraria Lello, que decidiu expô-lo no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, onde se encontra.
A Museus e Monumentos de Portugal, contactada pela agência Lusa sobre o interesse na obra, respondeu que "não tem comentários a fazer até à conclusão do leilão".
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