“A senhora ministra já assumiu ela própria que não é só Centeno, já deitou a toalha ao chão. Já está perfeitamente acomodada (…). A irrelevância política é evidente”, afirmou à agência Lusa o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Roque da Cunha, enquanto fazia um primeiro balanço da greve que hoje começou, com dados a apontarem para uma adesão que ronda os 80%.

Roque da Cunha pede ao primeiro-ministro e ao ministro das Finanças que compreendam que a saúde tem de ser uma prioridade, lamentando e estranhando que António Costa nunca tenha recebido os sindicatos médicos.

“O primeiro-ministro tem na saúde um irritante, é aquilo que o incomoda”, acrescentou.

Rejeitando uma visão do Governo de que “está tudo bem”, o dirigente sindical recordou que há mais de 700 mil utentes sem acesso a médico de família e que há doentes que esperam dois anos por uma consulta hospitalar.

“Os utentes não entendem que se diga que está tudo bem”, afirmou à Lusa.

Com a greve que hoje começou, e que se prolonga até às 24:00 de quarta-feira, os médicos exigem que todos os portugueses tenham médico de família, lutam pela redução das listas de utentes dos médicos e por mais tempo de consultas, querem a diminuição do serviço em urgência das 18 para as 12 horas, entre várias outras reivindicações, que passam também por reclamar que possam optar pela dedicação exclusiva ao serviço público.

O secretário-geral do SIM lembrou que os médicos estão interessados em voltar a ter a opção da dedicação exclusiva ao serviço público, que terminou em 2009, e defendeu ainda uma organização de serviços baseada em equipas dedicadas às urgências.

Roque da Cunha recordou ainda à Lusa que os médicos perderam “23% do seu poder de compra” nos últimos 10 anos e salientou a saída do serviço público de clínicos mais experientes e diferenciados.

Nas contas do SIM, reformaram-se cerca de 1.800 assistentes graduados seniores, sendo que apenas foram repostos cerca de 300, o que causa problemas de hierarquia nas instituições, de capacidade de decisão e de idoneidade nos serviços.

Na semana passada, o Governo publicou um despacho em Diário da República a autorizar a abertura de concurso nacional de acesso ao grau de consultor dirigido a um limite máximo de 1.150 médicos, que assim atingem a categoria de assistentes graduados.

O despacho, assinado pela ministra da Saúde e pelo ministro das Finanças, estabelece que o concurso poderá abranger no máximo 1.150 trabalhadores.

Este concurso nacional de habilitação ao grau de consultor significa o “consequente provimento na categoria de assistente graduado dos trabalhadores que obtenham o referido grau”, lê-se no diploma.