“Desde a primeira hora que as contradições e as disparidades das declarações” do primeiro-ministro, do ministro da Defesa, do chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) e do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas “têm sido notórias”, argumentaram os democratas-cristãos no requerimento para a audição de Azeredo Lopes na comissão parlamentar de Defesa Nacional.
Os centristas pretendem que o ministro da Defesa esclareça “como pode ter a certeza de o conjunto do material furtado ter sido todo recuperado e como obteve essa garantia, considerando que o chefe do Estado-Maior do Exército afirmou na comissão que nunca a deu”.
Numa audição parlamentar em 31 de julho, o CEME, Rovisco Duarte, disse que o Exército “nunca deu garantias de que o material encontrado correspondia ao material furtado”.
No requerimento, o CDS-PP sublinha que a afirmação conflitua com declarações de Azeredo Lopes proferidas em 26 de outubro do ano passado, após a recuperação do material furtado, na Chamusca.
Já depois da aprovação do requerimento do CDS-PP, na semana passada, o caso de Tancos voltou a ser colocado na ‘agenda mediática’ pelo líder social-democrata, Rui Rio.
No domingo, no encerramento da Universidade de Verão do PSD, Rui Rio defendeu que o país tem de exigir ao Ministério Público (MP) que rapidamente faça a “acusação correta” no caso de Tancos, considerando o Governo “incapaz de dar mais respostas” sobre o caso.
Horas depois, numa publicação na rede social Facebook, o ministro da Defesa reafirmou que não incumbe ao Governo a investigação do caso, mas ao MP, e defendeu que “é mau quando, para se fazer a oposição a qualquer preço, se confundem estes factos básicos, que se resumem… ao princípio da separação de poderes”.
Na segunda-feira, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse ter "uma forte esperança" de que as conclusões da investigação criminal ao desaparecimento de material militar de Tancos sejam conhecidas dentro "de dias ou de semanas e não de meses".
Antes, o primeiro-ministro, António Costa, tinha defendido que o Governo "já fez aquilo que tinha a fazer" relativamente ao caso de Tancos, considerando que desrespeitaria a autonomia do MP se pressionasse a investigação criminal.
O furto de material militar dos paióis de Tancos - instalação entretanto desativada - foi revelado no final de junho de 2017. Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e grande quantidade de munições.
Em 18 de outubro passado, a Polícia Judiciária Militar recuperou, na zona da Chamusca, quase todo o material militar que tinha sido furtado da base de Tancos no final de junho, à exceção das munições de 9 milímetros.
Contudo, entre o material encontrado, num campo aberto na Chamusca, num local a 21 quilómetros da base de Tancos, havia uma caixa com cem explosivos pequenos, de 200 gramas, que não constava da relação inicial do que tinha sido furtado, o que foi desvalorizado pelo Exército e atribuído a falhas no inventário.
Citando partes do inquérito do MP relativos à investigação judicial ao furto de Tancos, o jornal Expresso referia, em 14 de julho, que, além das munições de 9 milímetros, há mais material em falta entre o que foi recuperado na Chamusca, como granadas de gás lacrimogéneo, uma granada de mão ofensiva e cargas lineares de corte.
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