Matt Hancock pediu hoje a demissão da pasta de ministro da Saúde depois de ter sido apanhado a beijar Gina Coladangelo, sua conselheira, no seu escritório, quebrando o protocolo de segurança da pandemia que aprovou.
Na carta enviada para Boris Johnson, tornada pública, Hancock disse que "dever às pessoas que tanto sacrificaram nesta pandemia ser honesto, já que as deixei ficar mal". Tal como na reação pública emitida ontem, o agora ex-ministro voltou a pedir desculpa por "quebrar os protocolos de segurança" que aprovou.
Johnson já respondeu, dizendo "lamentar" a decisão, mas aceitando-a. "Deves abandonar a pasta muito orgulhoso do que conseguiste — não apenas em lidar com a pandemia, mas mesmo antes de sermos atingidos pela Covid-19".
Mais tarde, num vídeo publicado na sua própria conta de Twitter, Hancock explicou o seu processo de decisão. "Eu contactei o primeiro-ministro para demitir-me enquanto ministro da Saúde e da Assistência Social. Eu tenho noção dos enormes sacrifícios que toda a gente fez neste país, que vocês fizeram, e que aqueles de nós que fazem as regras têm de respeitá-las e é por isso que tenho de me demitir", diz.
Fazendo um balanço da sua gestão da crise sanitária, Matt Hancock, de 42 anos, admitiu que o Governo "não acertou em todas as decisões", mas apelou à compreensão dos cidadãos pela "dificuldade de lidar com algo desconhecido".
Esta decisão de Hancock surge 24 horas depois de ter recusado abandonar o cargo, apesar de admitir o erro, e depois dos pedidos de demissão por parte não só da oposição, mas também de deputados do partido Conservador, atual força de Governo.
O tabloide britânico The Sun fez manchete da edição desta sexta-feira com fotografias que mostram Matt Hancock, ministro da saúde do Reino Unido casado e com três filhos, a beijar Gina Coladangelo, conselheira por si escolhida para um cargo governamental não-executivo.
O The Sun terá conseguido obter imagens CCTV do escritório de Hancock em Whitehall, em Londres, do dia 6 de maio. Segundo o calendário de desconfinamento do Governo britânico, apenas foi permitido ter contacto íntimo com pessoas fora da própria residência no Reino Unido a partir de dia 17 desse mês.
O que estava em causa, porém, não é apenas a violação de normas sanitárias. O caso está tomou outras proporções porque se soube em novembro de 2020 que Coladangelo, amiga de faculdade de Hancock, foi contratada a pedido do agora ex-ministro para um cargo de conselheira sem vencimento no Department of Health and Social Care — o equivalente à Direção-Geral de Saúde em Portugal.
Esse cargo, mais tarde, evoluiu para uma posição de diretora não-executiva em part-time a auferir um salário de 15 mil libras por ano. De acordo com o The Guardian, Coladangelo — chefe de marketing da cadeia de lojas Oliver Bonas, detidas pelo marido, e acionista e diretora da agência de lóbi Luther Pendragon — recebeu também um passe para ter acesso ao Parlamento britânico.
As últimas semanas tinham sido particularmente duras para Hancock. Além da subida de casos no Reino Unido, tinha sido alvo das alegações de Dominic Cummings, ex-assessor do Governo que o acusou de ter mentido no exercício do cargo em relação à pandemia e de ter cometido erros fatais, como as falhas no sistema de testes que fizeram com que pacientes com o vírus fossem transferidos de hospitais para lares de idosos.
Posteriormente, publicou imagens de alegadas mensagens trocadas com Boris Johnson onde este classifica Hancock como “completamente inútil” no tratamento da pandemia.
Esta não é a primeira queda de uma figura do Governo motivada pela violação das regras do confinamento. No início da pandemia, em maio de 2020, o cientista Neil Ferguson, um dos principais conselheiros do executivo de Boris Johnson, foi forçado a demitir-se após receber em sua casa uma mulher, alegadamente amante, durante o primeiro confinamento em Inglaterra.
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