Ernesto Araújo foi convidado pela Comissão de Relações Exteriores da Câmara alta do Congresso brasileiro (Senado) para explicar a visita da passada sexta-feira, criticada por vários parlamentares que consideraram que as declarações do ministro e de Pompeo significaram uma “interferência indevida nos assuntos internos” de outra nação, no caso, a Venezuela.

Alguns parlamentares que fazem oposição ao Governo brasileiro consideraram que a passagem de Pompeo naquela região seria um ato de campanha do Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, que tenta a reeleição em novembro.

Araújo explicou que o encontro foi proposto por Pompeo, no cronograma de uma viagem que também o levou ao Suriname, Guiana e Colômbia e na qual, em todos os casos, se discutiu a crise venezuelana, que afeta diretamente todos esses países.

A respeito do interesse do secretário norte-americano em passar pelo Brasil, Araújo lembrou que o país recebeu nos últimos anos mais de 200 mil venezuelanos e que, para isso, elaborou a Operação Acolhida, com um custo de cerca de 400 milhões de dólares (342,7 milhões de euros), que conta com o apoio de entidades ligadas às Nações Unidas e dos EUA.

“Foi uma grande satisfação da nossa parte que o secretário Pompeo conheceu a Operação Acolhida”, disse Araújo aos parlamentares.

O representante do Governo brasileiro justificou que os EUA são grandes doadores dos programas de apoio para refugiados das Nações Unidas e, portanto, os seus representantes têm grande interesse em conhecer o projeto em andamento no Brasil para receber refugiados e imigrantes que fugiram da grave crise económica e social na Venezuela.

“Faz todo sentido que o secretário de Estado dos Estados Unidos, que tem esta contribuição, que tem este interesse em contribuir com a Operação Acolhida, visite as instalações da operação”, defendeu.

O ministro lembrou que a visita durou apenas algumas horas e ocorreu na cidade de Boa Vista, capital do estado de Roraima, onde pôde ver com Pompeo as instalações criadas para receber os venezuelanos e, depois, participaram numa conferência de imprensa.

Foi exatamente no encontro com os jornalistas que, por um erro de tradução das afirmações do representante do Governo dos EUA foram divulgadas declarações imprecisas que motivaram o convite ao ministro para prestar explicações no Senado.

“Nesta conferência [de imprensa] um dos elementos mencionados pelo secretário Mike Pompeo foi objeto de polémica por uma má tradução como já se sabe, como já está publicado na ‘media’. Foi traduzido que ele haveria dito: o nosso mundo está consistente e a gente vai tirar esta pessoa e vai colocar no lugar certo”, justificou Araújo.

O ministro brasileiro explicou que a declaração soou “como se [Pompeo] estivesse se referindo a Nicolas Maduro”, mas na verdade houve um erro de tradução.

Araújo citou a afirmação de Pompeo em inglês e fez uma tradução livre, frisando que o secretário de Estado norte-americano terá dito: “Nosso trabalho será consistente e chegaremos ao lugar certo”.

Para o ministro, esta declaração encaixa-se “no contexto de toda a entrevista onde ficou claro que [a frase de Pompeo] se deu dentro de uma perspetiva humanitária, de defesa dos direitos humanos”.

Segundo Araújo, nem o Brasil nem os EUA “fazem nada contra o povo venezuelano”, que está “submetido” a “um regime ditatorial da pior espécie” e sofre “a pior situação de direitos humanos já vivida” na América do Sul.

“Foi dito [no Brasil] e, talvez seja uma das críticas principais à visita do secretário Mike Pompeo, que ela foi uma plataforma eleitoral para as eleições de novembro nos Estados Unidos. Não é assim”, afirmou Araújo, sobre a acusação da oposição.

O representante do Governo brasileiro lembrou que os líderes democratas e republicanos corroboram dos objetivos norte-americanos na Venezuela.

“Não faz sentido pensar nisto [a visita de Pompeo] como uma plataforma eleitoral já que não há diferenças substantivas entre posições republicanos e democratas em relação à Venezuela. Tudo indica que se houver uma vitória Democrata nas eleições de novembro a atitude norte-americana para a Venezuela continuará exatamente a mesma”, concluiu Araújo.

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