O chefe da diplomacia portuguesa participou num evento à margem da cimeira [da NATO], que hoje começou na capital da Lituânia, com Tsikhanouskaya, que se encontra exilada nesta cidade, e com a homóloga da Islândia, Thordis Gylfadottir, com vista a debater o papel da Bielorrússia na segurança europeia e euroatlântica.
Num discurso escrito enviado à Lusa, o chefe da diplomacia portuguesa elogiou no encontro a “coragem e liderança ao longo dos últimos anos [de Tsikhanouskaya], carregando a tocha da liberdade”, e de Syarhei Tsikhanouski (marido da ex-candidata presidencial em 2020] e de outros presos políticos que “são heróis da democracia”.
“Acredito muito que em algum momento, e pode ser mais cedo ou pode ser mais tarde, o ditador da Bielorrússia cairá, o seu regime entrará em colapso, e o povo da Bielorrússia beneficiará da liberdade a que tem direito”.
Cravinho descreveu a situação atual como “muito sombria”, referindo que o território da Bielorrússia foi usado para o lançamento da invasão em grande escala da Rússia à Ucrânia, em 24 de fevereiro do ano passado, numa tentativa fracassada de chegar a Kiev.
“A Bielorrússia é mais do que cúmplice, é parceira no crime da invasão de [Vladimir] Putin e enquanto Lukashenko estiver no poder, é isso que permanecerá. Ao posicionar armas nucleares táticas na Bielorrússia, Putin moveu-as várias centenas de quilómetros para o oeste, o que é claramente uma tentativa de intimidar não apenas a Ucrânia, mas também a NATO”, afirmou o governante, adicionando que “é também a maneira brutal de Putin dizer que na Bielorrússia ele faz o que quer e que a soberania da Bielorrússia pouco lhe interessa, exceto em termos puramente formais”.
Ao longo dos anos, na análise do político português, o Presidente bielorrusso envolveu-se num “ato de equilíbrio, por um lado sendo amplamente dependente do seu patrono Putin, mas ao mesmo tempo buscando estabelecer uma certa esfera de autonomia”.
O maior problema de Lukashenko, prosseguiu, é que, “à medida que a guerra avança, o seu próprio espaço de autonomia, que é sua tábua de salvação, está a tornar-se cada vez menor” e, quanto mais a situação militar piora para Putin, “a sua instrumentalização da Bielorrússia tornar-se-á menos tolerante” com os requisitos do líder do Governo de Minsk.
“A derrota da Rússia na guerra contra a Ucrânia será um desastre também para a ditadura na Bielorrússia”, sustentou.
O fim desta guerra exigirá uma “nova e sólida arquitetura de segurança”, atendendo ao que aconteceu nos últimos oito anos ou mais, disse ainda o chefe da diplomacia portuguesa, citando o exemplo da Geórgia.
??????A líder da oposição bielorrussa, derrotada por Lukashenko nas eleições realizadas em 2020 e consideradas fraudulentas pela generalidade da comunidade internacional, expressou por sua vez gratidão a Portugal.
“Foi um prazer receber o ministro João gomes Cravinho no nosso escritório em Vilnius hoje. Discutimos a transferência de armas nucleares para o nosso território, as ameaças iminentes contra a nossa independência e a estratégia da União Europeia para a Bielorrússia. Agradeço o apoio contínuo de Portugal, declarou no Twitter.
Tsikhanouskaya, assim como outros opositores ao regime de Lukashenko, fugiu do país depois das últimas eleições presidenciais, em agosto de 2020.
Lukashenko, aliado de Moscovo, conquistou o sexto mandato consecutivo com 80% dos votos, mas o resultado das eleições não foi reconhecido pelos Estados-membros da União Europeia, que viria a aplicar sanções contra Minsk, envolvendo membros do Governo, personalidade do regime e instituições por violação dos direitos humanos.
A líder da oposição, Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2020, apelou no ano seguinte para criação de um tribunal internacional para investigar e julgar crimes alegadamente cometidos pelo Governo de Lukashenko.
“Não podemos autorizar os ditadores a escrever a história”, insistiu Tsikhanouskaya.
Ao longo de meses após as eleições, manifestações de protesto incentivadas por Tsikhanouskaya foram reprimidas fortemente ma Bielorrússia. A polícia deteve mais de 35 mil pessoas e milhares de manifestantes foram agredidos pelos agentes.
Tsikhanouskaya classificou esta repressão como “um terror que o país não tinha experimentado desde o tempo do estalinismo”.
Em junho do ano passado, a política foi recebida em Lisboa pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no âmbito de uma visita que realizou a Portugal, antes de ser condenada à revelia a 15 anos de prisão na Bielorrússia, acusada de alta traição, conspiração para tomar o poder de forma inconstitucional e criação de uma organização extremista.
O regime bielorrusso é aliado de Moscovo e na invasão da Ucrânia em 2022 as tropas russas usaram território da Bielorrússia.
Nos últimos anos multiplicaram-se as denúncias de violações dos direitos humanos na Bielorrússia e de repressões e detenções arbitrárias a jornalistas e opositores ao regime.
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