“Queremos que o modelo grego seja aplicado em outros países mediterrâneos, como Itália, Espanha e Malta”, que são as portas de entrada na Europa para migrantes e refugiados, afirmou Gérald Darmanin, numa entrevista à agência France-Presse (AFP).

No domingo, o ministro do Interior francês deslocou-se à ilha grega de Samos, no mar Egeu, próxima das costas da Turquia, onde as autoridades gregas inauguraram, em setembro, um campo de processamento e de acolhimento de refugiados de “acesso fechado e controlado”, cercado por arame farpado e por torres de vigia.

Os migrantes só são autorizados a sair das instalações entre as 08:00 e as 20:00, são transportados em autocarros especiais e obrigados a utilizar as impressões digitais e cartões eletrónicos no portão magnético da entrada do campo.

Este campo foi erguido para substituir outro campo que estava sobrelotado, cujas instalações ficavam próximas do porto de Vathy (capital da ilha de Samos).

Com a ajuda de fundos europeus, a Grécia comprometeu-se a construir outros campos “fechados”, encarados pelos defensores dos direitos humanos como verdadeiros centros de detenção, em outras quatro ilhas do mar Egeu, também conhecidas como ‘hotspots’ por serem os principais pontos de entrada no país para os migrantes e requerentes de asilo.

“Pedimos aos países do sul da União Europeia (UE) que façam como os gregos fizeram, que controlem mais as fronteiras externas, e que outros países aceitem um sistema de solidariedade”, afirmou o ministro francês, em declarações à AFP.

Para várias organizações não-governamentais (ONG) de defesa dos direitos humanos, nomeadamente a Amnistia Internacional, este novo campo em Samos “impede a identificação efetiva de pessoas vulneráveis” e “limita o acesso dos requerentes de asilo aos serviços”.

“Na opinião das pessoas que trabalhavam no antigo campo de Vathy, mas também dos requerentes de asilo, as condições de vida são melhores”, contrapôs o ministro francês.

“Este campo impressionante foi projetado como um centro de espera e permite aos gregos controlarem melhor as suas fronteiras”, prosseguiu Gérald Darmanin.

Em comparação a 2015, quando em plena crise migratória na Europa alguns extremistas se infiltraram no fluxo de refugiados em massa que chegou então à Grécia e alguns acabariam por participar nos atentados de 13 de novembro (de 2015) em Paris, o nível de segurança nas ilhas gregas encontra-se reforçado.

“Há sempre receios de ataques terroristas, mas hoje em França a ameaça é essencialmente endógena”, disse Gérald Darmanin.

França, que assumirá a presidência rotativa do Conselho da UE no primeiro semestre de 2022, define o reforço das fronteiras externas da Europa como uma das suas prioridades.

“Gostaríamos que todos os países situados nas fronteiras da Europa pudessem ter a mesma política de controlo e de registo de pessoas”, observou o ministro francês, manifestando-se a favor de uma política comum de migração europeia e alguma inquietação face a eventuais novos fluxos migratórios em massa.

“Veja o que está a acontecer no Afeganistão ou na Bielorrússia, não sabemos o que vai acontecer amanhã”, alertou Gérald Darmanin.

Apresentada em setembro de 2020 pela Comissão Europeia, a proposta de um Novo Pacto europeu para a Migração e Asilo mantém-se ainda em negociações no seio do bloco comunitário.