“A Austrália e Timor-Leste são vizinhos próximos, com uma história partilhada e fortes ligações entre pessoas. Como sempre, a minha abordagem será ouvir, e estou ansiosa para discutir como é que a Austrália pode continuar a apoiar o desenvolvimento económico de Timor-Leste, as propostas da ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático] e da OMC [Organização Mundial do Comércio] e as prioridades da mobilidade laboral”, referiu Penny Wong em comunicado.

“A Austrália está empenhada em trabalhar em conjunto com a Papua Nova Guiné e Timor-Leste no interesse de um Indo-Pacífico estável, resiliente e próspero”, disse, referindo-se aos dois países que visita esta semana.

A visita a Díli, dias antes de o Presidente timorense, José Ramos-Horta, se deslocar em visita a Camberra, ocorre numa altura em que a atenção mediática se tem virado para o possível interesse de Timor-Leste fortalecer os seus laços com outros países, incluindo a China.

Durante a visita a Díli, e segundo a agenda preliminar a que a Lusa teve acesso, Penny Wong tem previstos encontros com José Ramos-Horta, com o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, e ainda com a ministra dos Negócios Estrangeiros, Adaljiza Magno, e com o ministro das Finanças, Rui Gomes.

Bill Costello, embaixador da Austrália em Díli, disse hoje à Lusa que a visita será uma oportunidade de fortalecer os crescentes laços bilaterais que melhoraram significativamente depois da assinatura do acordo de fronteiras marítimas entre os dois países.

O apoio australiano ao combate à covid-19 — com o envio de mais de um milhão de vacinas, entre outra assistência de saúde — e na resposta às cheias do ano passado foram outros aspetos a destacar.

Na agenda dos contactos com as autoridades timorenses, Penny Wong deverá analisar programas como o de importação de mão-de-obra timorense, quer no quadro do programa de trabalhadores sazonais, quer num novo programa para trabalhadores com prazos de permanência mais amplos.

Um programa de mobilidade laboral que se viu significativamente aumentado este ano com mais de 2.000 trabalhadores enviados para a Austrália — 600 só em junho — e a previsão de que o total poderá chegar aos 3.000 até final do ano.

Uma tendência crescente que poderá ser fortalecida com programas de formação técnica e profissional, tanto em Timor-Leste como na Austrália, explicou Costello.

A cooperação na área da segurança marítima, um novo acordo de defesa entre os dois países e o imbróglio que se arrasta há vários anos sobre o desenvolvimento do campo petrolífero do Greater Sunrise, no Mar de Timor, estão igualmente na agenda.

Neste último caso, Bill Costello disse que já se realizaram este ano quatro rondas de diálogo do grupo técnico de trabalho, que envolve os dois governos, com uma “reunião substantiva” entre os dois governos e as empresas do consórcio do Greater Sunrise, em que a petrolífera timorense tem a maioria do capital.

Costello notou as melhorias na relação bilateral nos últimos anos e a vontade do novo Governo australiano manter esses laços com Timor-Leste, destacando a decisão do atual executivo de pôr fim ao julgamento do advogado Bernard Collaery, em julho.

O procurador-geral australiano, Mark Dreyfus, anunciou a retirada da acusação contra Bernard Collaery, que estava a ser julgado por alegadamente ter revelado que os serviços secretos australianos tinham colocado escutas no gabinete governamental de Timor-Leste durante negociações comerciais sobre petróleo e gás.

Collaery foi acusado em 2018 de quatro acusações de comunicação ilegal de informações dos serviços secretos australianos em entrevistas aos ‘media’ e uma acusação de conspiração, em conexão com a alegada divulgação de informações ao Governo de Timor-Leste.