Em conferência de imprensa em Kiev, após receber o homólogo português, João Gomes Cravinho, o chefe da diplomacia ucraniana manifestou igualmente confiança de que o pacote de ajuda norte-americano à Ucrânia acabará por ser desbloqueado.
“Os debates estão consagrados na democracia e a Ucrânia é uma democracia. Podemos ter discussões sobre táticas dentro da equipa, mas estamos todos unidos em torno do nosso objetivo estratégico, que é a derrota da Rússia na Ucrânia e a restauração da integridade territorial e da soberania da Ucrânia”, afirmou Dmytro Kuleba, frisando: “Não há qualquer discussão sobre este objetivo estratégico”.
O governante comentava notícias que dão conta da possível demissão do comandante das Forças Armadas, Valerii Zaluzhnyi, devido a divergências com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que admitiu na segunda-feira uma remodelação no Governo.
Zelensky reconheceu, em entrevista à estação italiana RAI, que está a refletir sobre a mudança de “uma série de líderes de Estado”, após ser questionado sobre uma possível saída de Zaluzhnyi.
“Esta é uma questão relacionada com as pessoas que têm de dirigir a Ucrânia. Certamente é necessário um recomeço, um novo começo e, quando falamos sobre isso, eu quero dizer que se trata de uma substituição de uma série de dirigentes do Estado, não apenas de um setor como os militares”, afirmou.
Em declarações hoje as jornalistas, Dmytro Kuleba afastou que as divergências dentro do executivo ucraniano possam influenciar os aliados internacionais.
“Não creio que quaisquer mudanças no Governo possam influenciar as nossas relações com os nossos parceiros, porque os nossos parceiros respeitam a autoridade do Presidente”, disse o chefe da diplomacia ucraniana, destacando que se trata de “um direito soberano, constitucionalmente garantido”, de Volodymyr Zelensky.
O ministro ucraniano voltou a saudar a recente aprovação de um pacote de assistência de 50 mil milhões de euros da União Europeia e mencionou “mensagens tranquilizadoras dos Estados Unidos de que o apoio dos americanos também será prestado”, em alusão a um financiamento aprovado no Senado de cerca de 60 mil milhões de dólares (46,6 mil milhões de euros), mas que encontra ainda resistências da ala radical do Partido Republicano na Câmara de Representantes.
Ao fim de quase dois anos desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano manifestou hoje a sua intenção de permanecer no cargo, deixando duas razões apenas que possam levar à sua saída.
“A primeira é se o Presidente [Zelensky] me pedir que o faça, porque ofereceu-me este cargo e penso que é justo que, se ele quiser ver outra pessoa como ministro dos Negócios Estrangeiros, eu não continue”, observou.
O segundo motivo, apontou, está relacionado com eventuais divergências sobre a forma como a política externa da Ucrânia é definida e gerida.
“Nenhuma destas duas razões existe neste momento. Por conseguinte, continuo a trabalhar. Mas, mais uma vez, gostaria de sublinhar que o Presidente tem esse direito”, declarou, insistindo que Zelensky tem a prerrogativa de afastar em qualquer momento os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, bem como o comandante das Forças Armadas.
Os chefes da diplomacia de Kiev e de Lisboa avistaram-se hoje de manhã na capital ucraniana, no segundo dia da visita à Ucrânia de João Gomes Cravinho, e do ministro da Educação, João Costa.
*Por Henrique Botequilha (texto) e António Cotrim (fotos), da agência Lusa
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