Na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, a deputada do BE Isabel Pires disse que a habitação pode ser entendida como “um direito ou mais um ativo financeiro para poder especular”, criticando a escolha de Carlos Moedas de estar presente numa concentração de empresários do alojamento local (AL) e de estar ausente numa manifestação pelo direito à habitação.
Para o grupo municipal do BE, o projeto de governação de Carlos Moedas defende “uma cidade classista, que só responde a alguns e continua a expulsar demasiados”, por considerar que “a propriedade é um direito sagrado em democracia” e recusar priorizar o direito à habitação.
Isabel Pires criticou ainda a opção da liderança PSD/CDS-PP, que governa sem maioria absoluta, de “travar programas de renda acessível em zonas como o Restelo, porque prefere responder a uma visão puramente classista de que em determinadas zonas determinadas pessoas não têm lugar”.
“Quando é que vai começar a defender o direito de todas as pessoas e não só de algumas?”, questionou a bloquista, considerando que Carlos Moedas tem feito anúncios, mas tem feito “pouco” para resolver os principais problemas da cidade, entre os quais o acesso à habitação.
Em resposta, o presidente da câmara disse que a sua intervenção “não tem muito de anúncio”, referindo que o balanço na área da habitação é de “1.000, 1.000, 1.000”, três números que dizem respeito à entrega de chaves, às casas em construção e às famílias apoiadas com o subsídio à renda, desde o início do mandato, em 18 de outubro de 2021, e até ao momento.
“O BE é conivente com o aumento do AL em Lisboa”, expôs o social-democrata, indicando que quando os bloquistas estavam na governação da cidade num acordo com o PS foi registado um acréscimo exponencial desta atividade económica, passando “de 500 unidade de AL para 18 mil unidades em sete anos”.
Sobre a presença numa concentração de empresários do AL, que decorreu na Praça do Município, Carlos Moedas explicou que foi receber um documento que decidiram entregar à câmara.
“Nisso, estou muito à vontade, eu não tenho, nem sou, nem nunca serei proprietário de alojamento local. Não é o caso da direção do BE, no BE, na direção nacional, tem pessoas que têm AL e têm direito a isso, são proprietários de AL”, apontou.
Na apresentação da intervenção da câmara entre fevereiro e março, o autarca defendeu que a crise na habitação exige “uma ação concreta que dê dignidade às pessoas, que assente no respeito democrático pelas autarquias, o respeito igual pelos inquilinos e senhorios, pelos jovens e os mais seniores, pelos trabalhadores e empresários”.
“Não baixaremos os braços nunca nas políticas de habitação”, assegurou o presidente da câmara, afirmando que a resposta, “antes de mais, é para os mais vulneráveis” e destacando o orçamento de 42 milhões de euros, disponibilizado à empresa municipal Gebalis para intervir nos bairros, a que se junta uma nova proposta de 85 milhões de euros, ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), para investir nesta área.
Do grupo municipal do PS, Patrocínia Vale César considerou que a intervenção da liderança PSD/CDS-PP se resume a “alguns anúncios feitos na comunicação social, embrulhados num bom ‘marketing’ e numa comunicação eficaz”, estando na habitação a inaugurar as obras que o anterior executivo deixou em andamento e a aplicar o PRR beneficiado pelo Governo.
“Seria bom para a cidade que o executivo demonstrasse o mesmo nível de empenho em encontrar soluções de habitação para os lisboetas do que o empenho que o engenheiro Carlos Moedas tem demonstrado em criticar a política de habitação do Governo”, declarou a socialista, exigindo “muito mais” de PSD/CDS-PP, que “prometeu tanto e tanto criticou” a governação socialista, e que beneficia do PS como “oposição ativa e responsável”, que lhe tem dado “todas as condições para governar”.
Carlos Moedas reforçou que o executivo está a “produzir habitação municipal como nunca”, recusando a ideia de ‘marketing’ político.
“Penso que fizemos realmente muito”, apontou.
Comentários