“A peça, com 12 metros de altura, cerca de quatro andares, pretende que seja avassaladora tal como avassaladora foi a desgraça. Pretendia que a dimensão fosse tão perturbante para o espetador como a tragédia foi para a população”, afirmou Fernando Crespo, natural de Vieira de Leiria, no concelho da Marinha Grande.

O artista plástico, que desde criança se habituou “a contemplar aquela imensidão florestal”, confessou que o incêndio de 15 de outubro de 2017 foi “um bocado traumático”, tendo-lhe ocorrido na ocasião “criar qualquer coisa que simbolizasse aquela desolação”.

“Não conseguia ficar indiferente”, declarou, referindo que “propôs à Câmara o trabalho depois de a presidente do município [Cidália Ferreira] ter anunciado a vontade de fazer um memorial alusivo à tragédia”.

A escultura, em aço pintado, contempla dois cenários, sendo que “na primeira moldura gigante surgem silhuetas carbonizadas numa posição invertida, percebendo-se que são elementos vegetais”, explicou Fernando Crespo.

“Na base terá um triângulo, que é o ponto de ignição e vai estar permanentemente iluminado como se fosse uma brasa incandescente”, declarou, concretizando que o objetivo é que simbolize “o ponto de partida destas tragédias, que é minúsculo, mas tem esta dimensão destruidora”.

Uma outra moldura, do mesmo tamanho, “apresenta-se vazia e inclinada, totalmente carbonizada, numa situação de expectativa em relação ao futuro”, adiantou, satisfeito por ter sido manifestado “entusiasmo pela peça, sobretudo pela sua dimensão dramática”.

“A peça vai ter no topo a inscrição ‘in memoriam’ e na parte inferior Marinha Grande e a data do incêndio”, adiantou, esclarecendo que a escultura deverá ficar instalada numa rotunda próxima das Finanças.

A residir em Coimbra, Fernando Crespo tem trabalhos de arte pública um pouco por todo o país e também no estrangeiro, sendo um dos seus últimos trabalhos um coração gigante, instalado junto ao Santuário de Fátima e inaugurado por ocasião do centenário dos acontecimentos na Cova da Iria.

A Lusa contactou a Câmara Municipal da Marinha Grande sobre este projeto, mas não obteve resposta.

A Mata Nacional de Leiria, também conhecida por Pinhal de Leiria e Pinhal do Rei, é propriedade do Estado. Tem 11.062 hectares e ocupa dois terços do concelho da Marinha Grande. A principal espécie é o pinheiro bravo.

O incêndio de 15 de outubro de 2017 destruiu cerca de 80 por cento da mata.