Entre as cerca de 30 pessoas encontrava-se o grupo coral alentejano Al Cante, composto por moradores de Alcântara, que juntaram o cante alentejano ao protesto com uma letra feita propositadamente para o dia de hoje.
Os moradores apelaram para não fecharem os correios, que “outrora estiveram bem e agora muito mal, pois só pensam em dinheiro”.
“Somos os primeiros a cantar bem alto, não fechem os correios. Ai correios, ai correios”, ouvia-se à porta da sede dos CTT.
Entre os manifestantes estiveram os presidentes das juntas de freguesia de Alcântara, Davide Amado (PS), de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS), e do Areeiro, Fernando Braamcamp (PSD).
À Lusa, o organizador da iniciativa, Davide Amado, explicou que ficou a saber do encerramento da estação da Junqueira pela comunicação social e, desde então, já tomou várias diligências, entre as quais um pedido de parecer à ANACOM (regulador das comunicações) sobre a legalidade do encerramento, uma queixa à Provedoria Geral de Justiça e pedidos de reunião com os grupos parlamentares e a própria administração dos CTT.
“Com o fecho deste posto assistimos à diminuição do serviço público, trazemos um problema acrescido para a população mais idosa, com mobilidade reduzida, que deixa de ter onde levantar a pensão, deixa de ter onde tratar do seu serviço postal e deixa de ter onde pagar as suas contas”, disse Davide Amado.
O presidente da junta de freguesia de Alcântara lembrou ainda que “o maior dividendo” que podia ser distribuído pelos CTT era o “não encerramento das estações em causa e a manutenção da qualidade dos serviços.
Também o presidente da junta de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, adiantou à Lusa que a estação da Rua da Palma, no Socorro, é um posto nuclear que serve cerca de três mil pessoas numa “freguesia envelhecida” que usa sobretudo o posto para “receber a pensão e vales postais e que ficará privada deste serviço”.
“A população vai ser privada deste serviço. Um posto que serve igualmente o pequeno comércio”, disse Miguel Coelho, considerando que o encerramento da estação do Socorro, e das outras duas em Lisboa, é uma “decisão prejudicial, com impactos sociais negativos”.
Miguel Coelho lamentou ainda que a administração “não tenha ouvido” os presidentes das juntas de freguesia afetadas com o encerramento das estações antes de ter tomado a decisão.
Durante a manifestação, o presidente da junta de Alcântara entregou um postal gigante endereçado ao presidente dos CTT, Francisco Lacerda.
A maioria dos manifestantes tinha nas mãos um postal grande, em tudo igual ao gigante entregue por Davide Amado, nos quais se podia ler: “Por favor não deixe que a nossa freguesia fique mais pobre. O posto dos CTT da Junqueira representa para muitos de nós, população mais frágil, mais envelhecida, um ponto de contacto acessível e facilitador. Que a sua grande ação seja manter o posto dos CTT na Junqueira aberto porque esse é o maior dividendo para a nossa freguesia”.
Elizete Torrão, residente em Alcântara, disse à Lusa que, embora não sendo afetada diretamente pelo fecho da estação, está solidária com os restantes moradores, que são “pessoas idosas às quais vai fazer muita falta o posto onde recebem as pensões e pagam os serviços primários, como a água e a luz”.
Segundo Armando Pinho, vão ser cerca de 15 mil pessoas afetadas com a decisão só na sua freguesia, já que a estação de Alcântara é também um posto de distribuição.
Em dezembro passado, os CTT divulgaram um Plano de Transformação Operacional, que prevê a redução de cerca de 800 trabalhadores na área das operações em três anos, um corte de 25% na remuneração fixa do presidente do Conselho de Administração e do presidente executivo, além da otimização da implantação de rede de lojas, através da conversão de lojas em postos de correio ou do fecho de lojas com pouca procura.
Já este ano, confirmaram o fecho de 22 lojas no âmbito deste plano de reestruturação, situação que, segundo a Comissão de Trabalhadores dos Correios de Portugal, vai afetar 53 postos de trabalho.
A privatização dos CTT, que rendeu aos cofres do Estado mais de 900 milhões de euros, foi feita a dois tempos – em 2013 e em 2014 – em operações que renderam, respetivamente, 579 milhões de euros (70% do capital social da empresa a 5,52 euros por ação) e 343 milhões de euros (30% do capital social detido pela Parpública ao preço de 7,25 euros por ação).
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