O ex-secretário de Estado da Defesa americano Frank Carlucci que serviu como embaixador dos EUA em Portugal, morreu este domingo, dia 3 de Junho, aos 87 anos.

A notícia foi avançada pelo jornal norte-americano The Washington Post que escreve que o antigo embaixador em Portugal morreu em sua casa vítima de de complicações relacionadas com a doença de Parkinson.

Num extenso artigo publicado hoje, o diário norte-americano, que caracteriza Carlucci como um negociador de crises duro e de pulso firme mas com um tom diplomático, percorre a carreira do político e empresário que serviu seis Presidentes norte-americanos.

A par do mandato como 16.º secretário da Defesa dos Estados Unidos (1987/1989), na administração republicana do Presidente Ronald Reagan, um dos aspetos focados pelo diário norte-americano foi a passagem de Frank Carlucci por Portugal, em pleno “Verão Quente” de 1975, enquanto embaixador norte-americano em Lisboa.

Após a revolução de 25 de abril de 1974, o então secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger dispensou o embaixador em funções em Lisboa e enviou Frank Carlucci para impedir que Portugal se tornasse no primeiro país da Europa Ocidental a assumir um regime comunista, segundo descreve o jornal norte-americano.

“Kissinger estava pronto para isolar Portugal dentro da NATO e cortar os programas de assistência dos EUA, mas Carlucci não concordou. Argumentou que o país poderia ser salvo para a democracia por causa dos seus laços com o Ocidente e pela força da Igreja Católica a nível local”, refere o mesmo artigo.

Após três anos em Lisboa, Frank C. Carlucci III, que acompanhou o percurso de vários políticos portugueses, como o antigo Presidente Mário Soares com quem estabeleceu uma relação de amizade, decidiu sair de Portugal.

De acordo com o jornal, o próprio afirmou que era tempo de se ir embora de Portugal porque se tinha “tornado um ator nos acontecimentos”.

Apesar de a estadia em Lisboa ter sido curta, são várias as histórias que envolvem o diplomata, nomeadamente as que o colocam no papel de coordenador de todas as atividades da CIA durante o Verão Quente de 1975.

No livro "Carlucci vs. Kissinger - Os EUA e a Revolução Portuguesa", de Bernardino Gomes e Tiago Moreira de Sá (Ed. D. Quixote), que recorre a documentos desclassificados dos arquivos norte-americanos para reconstituir como os Estados Unidos acompanharam a situação em Portugal de 1974 a 1976, Carlucci admite ter coordenado diretamente todas as atividades da agência de inteligência externa norte-americana CIA em Portugal no Verão Quente de 1975.

"Tudo o que a CIA fez foi sob o meu comando. Qualquer ação que possa ter desenvolvido destinava-se a executar a política dos EUA, que era apoiar as forças democráticas em Portugal. A CIA era parte da equipa [da embaixada] e eles faziam o que lhes mandava", afirma o ex-diplomata na obra.

Após a estada em Lisboa como diplomata, Frank Carlucci foi nomeado diretor adjunto da CIA, tendo sido mais tarde secretário adjunto da Defesa, conselheiro de Segurança do presidente Ronald Reagan e secretário da Defesa.

Em 2004 Carlucci foi condecorado com a grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique pelo primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, uma distinção que na altura foi contestada pelo PCP. No ano seguinte foi um dos doze condecorados com as medalhas da Defesa Nacional pelo então ministro da Defesa Paulo Portas.

Frank Charles Carlucci III nasceu a 18 de outubro de 1930, em Scranton, na Pennsylvania.

* Fotografia: O Secretário de Estado da Defesa dos EUA, Frank Carlucci, e o ministro da Defesa Eurico de Melo, em conferência de imprensa no Palácio de São Bento, em Lisboa a 3 de fevereiro de 1988. Alfredo Cunha / Lusa