O corpo do arquiteto Manuel Graça Dias, que morreu no domingo à noite em Lisboa com 66 anos, está hoje na Basílica da Estrela na capital, a partir das 18:00, disse um amigo da família à agência Lusa.
O funeral do arquiteto realiza-se na terça-feira, às 15:30, da basílica para o cemitério dos Olivais, também em Lisboa.
O Presidente da República e a ministra da Cultura já apresentaram os seus pêsames pela morte do arquiteto, que interveio na recuperação do Teatro Luís de Camões, LU.CA, em Lisboa.
Marcelo Rebelo de Sousa lamentou a morte do arquiteto Manuel Graça Dias, sublinhando o "indisfarçável entusiasmo" pela "paixão de uma vida".
"Uma vida inteira de dedicação ao seu trabalho, grande parte em parceria com Egas José Vieira, torna quase injusto destacar apenas algumas das suas obras mais notáveis – e foram tantas – e que mereceram prémios, menções honrosas, distintas nomeações nacionais e internacionais", afirma o Chefe de Estado.
Graça Fonseca, por seu turno, referiu-se Manuel Graça Dias como “um pensador da cidade para as pessoas e da arquitetura enquanto disciplina estética”.
Em comunicado, a ministra recorda que Manuel Graça Dias abriu, com Egas José Vieira, o atelier Contemporânea, que constituiu “uma das mais influentes assinaturas da arquitetura contemporânea em edifícios públicos que revelam uma preocupação sobre a passagem do tempo enquanto elemento constitutivo de uma relação atenta aos usos diferenciados e às transformações estéticas, sociais e urbanísticas das cidades”.
O presidente do Conselho Internacional dos Arquitetos de Língua Portuguesa (CIALP) sublinhou a importância da obra e a capacidade de comunicação do arquiteto.
"A arquitetura era uma coisa fechada e ele teve um papel central ao trazê-la para o grande público, como cultura de consumo, o que foi essencial para a arquitetura e para a própria classe", defendeu Rui Leão, que vive em Macau, onde Manuel Graça Dias iniciou a sua carreira.
"Era uma figura incontornável porque tinha capacidade de comunicar com todos", um "professor extraordinário, "com capacidade para promover a liberdade de cada um", afirmou.
A vida e percurso de Manuel Graça Dias
Manuel Graça Dias nasceu em Lisboa, e licenciou-se em arquitetura em 1977 pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, iniciando-se, profissionalmente, no ano seguinte, como colaborador do arquiteto Manuel Vicente, em Macau.
Foi assistente da Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa (1985-1996) e professor auxiliar da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (1997-2015), onde se doutorou com a tese "Depois da cidade viária" (2009). Era atualmente professor associado da mesma faculdade e professor catedrático convidado do Departamento de Arquitetura da Universidade Autónoma de Lisboa, desde 1998, que também dirigiu, entre 2000 e 2004.
Criou, em 1990, em Lisboa, onde vivia e trabalhava, o ateliê Contemporânea, com Egas José Vieira. Manuel Graça Dias e Egas José Vieira propuseram uma abordagem aberta ao edifício do Teatro Luís de Camões, inaugurado em 1880 e que a câmara de Lisboa reabriu, renovado, no dia 01 de junho do ano passado, com a designação de LU.CA, especialmente direcionado para a programação infanto-juvenil.
A casa que recuperou em 1979, no bairro lisboeta da Graça, com António Marques Miguel, recebeu a Menção Honrosa Valmor/1983.
Obteve, ainda, o 1.º lugar no concurso para o Pavilhão de Portugal na Expo'92 em Sevilha, no sul de Espanha, bem como o 1.º lugar no concurso para a construção da nova sede da Ordem dos Arquitetos, nos antigos Banhos de S. Paulo, ambos com Egas José Vieira.
Foi autor de artigos de crítica e divulgação da arquitetura em jornais e revistas da especialidade e, segundo a Universidade do Porto, era "solicitado para um vasto número de conferências, quer em Portugal quer no estrangeiro".
Graça Dias foi autor do programa quinzenal "Ver Artes/Arquitetura" na RTP2 entre 1992 e 1996 e foi colaborador da rádio TSF e do semanário Expresso na área da crítica de arquitetura (2001/2006).
Foi diretor do Jornal Arquitetos entre 2009 e 2012, assumiu a direção da Ordem dos Arquitetos de 2000 a 2004 e, entre outras funções, foi comissário da representação portuguesa à VIII Bienal de Arquitetura de São Paulo (2009); com Ana Vaz Milheiro, da exposição "Sul África/Brasil", para a Trienal de Lisboa/2010, tendo sido ainda Presidente da Secção Portuguesa da Association Internacional des Critiques d'Art, SP/AICA (2008-2012).
Foi autor de vários livros de crítica ou divulgação de temas de arquitetura, entre eles, "Macau Glória: A glória do vulgar", com Manuel Vicente e Helena Rezende (1991) "Vida Moderna" (1992), "Ao volante pela cidade: 10 entrevistas de arquitetura" (1999), "O homem que gostava de cidades" (2001), "Arte, arquitetura e Cidade: A propósito de 'Lisboa Monumental' de Fialho de Almeida" (2011), e "Aldeia da Estrela: Sociologia e arquitetura ao serviço de uma população", com Rodrigo Rosa e Egas José Vieira, (2015), entre outros.
Manuel Graça Dias tem trabalhos construídos em Almada, Braga, Chaves, Guimarães, Lisboa, Porto, Vila Real, Macau, Madrid, Sevilha e Frankfurt, foi coautor do "Estudo de Reconversão Urbana do Estaleiro da Lisnave", em Cacilhas, no concelho de Almada.
O Teatro Municipal de Almada (Teatro Azul, 1998-2005), que projetou com Egas José Vieira e Gonçalo Afonso Dias, foi nomeado para o Prémio Secil/2007, para o Prémio Mies van der Rohe/2007 e para o Prémio Aga Khan, 2008/2010.
Manuel Graça Dias e Egas José Vieira ganharam o Prémio AICA/Ministério da Cultura de Arquitetura, de 1999, pelo conjunto da sua obra construída.
Em 2006, Manuel Graça Dias foi agraciado, pelo então Presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio, com a Ordem do Infante D. Henrique (grau comendador).
(Notícia atualizada às 13h37)
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