O diplomata, de 85 anos, encontrava-se hospitalizado, acrescentou a mesma fonte.
José Cutileiro entrou para a carreira diplomática em 1974, a convite de Mário Soares, como adido cultural na embaixada de Portugal em Londres, e exerceu numerosos cargos internacionais, entre os quais o de secretário-geral da União da Europa Ocidental (UEO), depois de ter presidido à conferência de paz para a ex-Jugoslávia (1992).
Casado e com um filho, José Cutileiro, irmão do escultor João Cutileiro, nasceu em Évora, a 20 de novembro de 1934.
O pai, médico, republicano e laico, enfrenta problemas políticos com o regime salazarista e opta por sair do país para integrar a Organização Mundial de Saúde (OMS), levando mulher e filhos, então adolescentes, a viver na Suíça, na Índia ou no Afeganistão, onde em 1952 foram os primeiros cidadãos portugueses, de que há registo, a viver no Afeganistão.
De volta a Lisboa, José Cutileiro inicia o curso de Arquitetura, depois de Medicina, mas acaba por abandonar os estudos e mudar-se para Inglaterra, onde se licencia em Antropologia Social pela Universidade de Oxford.
É neste país que faz o doutoramento e leciona na London School of Economics (1971-1974), até que, com a revolução do 25 de abril, é convidado para a carreira diplomática, passando por Londres, Moçambique ou o Conselho da Europa.
Segundo a mulher, José Cutileiro considerava a revolução do 25 de abril “o dia mais importante da sua vida”, excetuando os momentos da vida pessoal.
Em 1987 volta a Lisboa para assumir a direção-geral de Negócios Político-Económicos, negociando nessa qualidade a adesão de Portugal à UEO, de que viria a ser secretário-geral entre 1994-1999, depois de, em 1992, ter sido coordenador da conferência de paz para a ex-Jugoslávia.
Pelo meio, foi embaixador na África do Sul, onde mudou a abordagem da diplomacia portuguesa em relação ao regime e, em 1990, foi recebido por Nelson Mandela 17 dias apenas depois daquele que viria a ser o primeiro Presidente sul-africano pós-apartheid ser libertado da prisão.
Definido pelos próximos como um verdadeiro “homem do mundo”, José Cutileiro tornou-se um especialista em Balcãs, tendo sido nomeado, em 2001, Representante Especial da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas para a Bósnia-Herzegovina e República Federal da Jugoslávia.
Ao longo dos anos, foi chamado a participar como conselheiro em presidências portuguesas da União Europeia (UE) e, em 2005, foi conselheiro político especial do presidente da Comissão Europeia José Manuel Durão Barroso.
Como escritor, publicou mais de uma dezena de obras, da poesia à crónica, passando pelo romance e por uma monografia de antropologia e livros de política internacional, além de crónicas na imprensa, designadamente no jornal Expresso, onde escrevia há vários anos “O Mundo dos Outros” e obituários .
Comentários