Antunes Filho, que morreu no Hospital Sírio-Libanês, é considerado pela crítica como um dos principais nomes do teatro brasileiro.

A página eletrónica dedicada ao autor, pela Fundação Itaú, destaca que Antunes Filho pertenceu à primeira geração de encenadores brasileiros, descendentes dos diretores do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), onde começou como assistente de direção, em 1952, e de que depois se afastou.

Participou ativamente no movimento de renovação cénica, ocorrido no Brasil durante as décadas de 1960 e 1970, os anos de ditadura militar.

Segundo a Fundação Itaú, foi “o primeiro diretor a empreender uma obra dramatúrgica e cenicamente autoral, com a montagem de ‘Macunaíma’, espetáculo de referência para jovens encenadores dos anos 1980″, inspirado no romance homónimo de Mário de Andrade, pioneiro do Modernismo brasileiro.

Trabalhou com criadores que influenciaram a sua geração, nomeadamente Ziembinski, Adolfo Celi, Luciano Salce, Ruggero Jacobbi e Flaminio Bollini.

Nascido em São Paulo, em 12 de dezembro de 1929, no tradicional bairro do Bixiga, José Alves Antunes Filho, mais conhecido como Antunes Filho, ainda jovem chegou a entrar na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, mas desistiu do curso para estudar Artes Dramáticas.

Estreou-se no teatro em 1953, com a peça “Weekend”, de Noel Coward, e, em 1958, fundou a companhia Pequeno Teatro de Comédia, e dirigiu o espetáculo “O Diário de Anne Frank”, conquistando os prémios da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) e da Associação Carioca de Críticos Teatrais (ACCT).

Ficou na companhia até ao início dos anos 1960, quando voltou ao TBC.

Dirigiu o Grupo Macunaíma – que adotou o nome da peça homónima – criando várias adaptações de textos de Nelson Rodrigues, além de “Trono de Sangue”, a partir de “Macbeth”, de Shakespeare, assim como a versão de “Romeu e Julieta”, com banda sonora de The Beatles, em 1984, espetáculo que marcou a cena teatral brasileira da época.

Entre os seus textos para cena, a base de dados do Centro de Estudos Teatrais da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, destaca “Lamartine Babo”, “Nova velha estória – O capuchinho vermelho de Antunes Filho”, a partir do conto de Charles Perrault.

No cinema, dirigiu “Compasso de Espera”, um drama sobre racismo, protagonizado por Zózimo Bulbul e Stênio Garcia.

Em 2006, recebeu o Prémio Bravo! de Melhor Espetáculo Teatral do Ano, pela peça “A Pedra do Reino” (2006).

Criou Centro de Pesquisa Teatral (CPT), na década de 1990, escola de formação e grupo permanente “de produção, formação e desenvolvimento de novos conceitos”, na pesquisa de um método próprio de interpretação para o ator, que dirigiu até a sua morte.

Entre as reações à morte de Antunes Filho, no Brasil, destacam-se as de atores como Eva Wilma (“Mulheres de Areia”, “Pedra sobre Pedra”), que disse ao jornal Globo “ser importante falar sobre o valor de toda a obra que [o encenador] deixa”, ou Sténio Garcia (“Gabriela”, “Meu Bem, Meu Mal”), que o definiu como “o grande incentivador do teatro brasileiro”.

A atriz Sónia Braga, escreveu na sua conta no Instagram “Descanse em paz, mestre”.

A imprensa brasileira noticiou hoje à tarde que o corpo de Antunes Filho será velado no Teatro Sesc Anchieta, em São Paulo, seguindo-se a cremação em Vila Alpina, na zona leste da cidade.