Morreu o escritor e ensaísta Pedro Baptista, comissário das comemorações da Revolução Liberal do Porto de 1820. Segundo o Jornal de Notícias, Pedro Batista terá sido vítima de doença súbita, esta madrugada, em casa, no Porto.

A morte de Pedro Rocha Baptista foi revelada horas depois de ter publicado na sua página na rede social Facebook um “é hoje! Até já!”, referindo-se à visita que se preparava para acompanhar à exposição “1820. Revolução Liberal do Porto", da autoria de José Manuel Lopes Cordeiro.

As Comemorações da Revolução Liberal do Porto começam hoje, 20 de fevereiro, na cidade. O presidente da Câmara, Rui Moreira, iria conduzir com Pedro Baptista, esta quinta-feira, uma visita exclusiva para a comunicação social à exposição “1820. Revolução Liberal do Porto”. O comissário iria também estar presente na inauguração oficial, esta tarde, às 18h.

Ao SAPO24, a autarquia refere que vai manter a abertura da exposição hoje às 18:00, como forma de homenagear o deputado Pedro Baptista. Para além disso, Rui Moreira decretou já um dia de luto municipal, esta sexta-feira, 21.

Na Casa do Infante, Rui Moreira disse que a programação das comemorações iria manter-se inalterada, como homenagem a Pedro Baptista. O autarca anunciou também que as cerimónias fúnebres serão na Casa Eugénio de Andrade, a partir das 17 desta sexta-feira.

Escreve o Público que o comissário das comemorações esteve ontem à noite na Assembleia Municipal do Porto. Esta manhã, a autarquia do Porto reagiu com consternação à notícia, que foi divulgada na visita prévia à exposição.

Esta exposição constitui o evento inaugural do programa das Comemorações da Revolução Liberal do Porto e aborda o primeiro ano desse processo que há 200 anos conquistou o país e ajudou a fundar o Portugal Moderno.

Na rede social Facebook, o presidente da câmara do Porto, Rui Moreira, deixou uma fotografia de Pedro Baptista, destacando-o como "um grande, grande portuense e amigo".

Pedro Rocha Baptista nasceu em Nevogilde, no Porto, em 1948. Licenciado e doutorado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, publicou vários ensaios, romances e comunicações no campo da filosofia.

Foi dirigente estudantil no Porto entre 1968 e 1971, cofundador do jornal “Grito do Povo” de oposição ao Estado Novo, preso político em 1973 e deportado para Angola, regressando a 01 de maio de 1974.

“Da Foz Velha a ‘O Grito do Povo’” foi em 2014 o título do primeiro livro de memórias de Pedro Baptista, que se dizia antifascista, comunista, marxista, leninista, coletivista, maoista e que, um dia, enquanto dirigente estudantil, encetou em 1968 uma luta contra o regime ditatorial a partir do Porto.

“É absolutamente falso que o Porto tenha tido um papel secundário” nos acontecimentos que levaram à revolução de abril de 1974, defendeu, convicto, numa entrevista então à agência Lusa.

O movimento por detrás do ‘Grito do Povo’ havia de fundir-se com o ‘Comunista’ gerando-se, progressivamente, a OCMLP (Organização Comunista Marxista-Leninista Portuguesa), com implantação desde o Norte até Santarém.

Cumpriram-se em janeiro os 45 anos do cerco dos comunistas ao Palácio de Cristal, onde decorria o I Congresso do CDS. Pedro Baptista e a OCMLP estiveram lá.

A OCMLP, que um dia Pedro Baptista ajudou a criar, não chegou a vingar e é em 1983 quando se demite que força à dissolução do movimento e vai fechar-se em casa a “lamber as feridas”, relatou, algo que voltaria a fazer anos mais tarde quando, com os resultados conseguidos em 2011 pelo movimento Pró-Partido do Norte, que liderou, assume uma “derrota em termos políticos e pessoais”.

Para as eleições legislativas de 2011, elementos do Movimento Partido do Norte (MPN) integraram as listas do Partido Democrático Atlântico (PDA) para concorrer em vários círculos eleitorais.

Não sem antes, nos anos 90, assumir a liderança da Plataforma de Esquerda e aliar-se ao PS que o leva a deputado à Assembleia da República, eleito pelo Porto, entre 1995 e 1999.

Numa nota publicada no seu portal de notícias, a Câmara Municipal do Porto refere que o deputado municipal morreu “repentinamente” e salienta que o seu percurso fica marcado pelo “grande contributo cívico e político ao serviço da cidade do Porto, que sempre elevou em todos os planos e palcos por onde passou”.

“Ao longo do seu trajeto político Pedro Baptista demarcou-se pela liberdade de pensamento, não temendo rótulos, nem o de reacionário, muito menos o de revolucionário”, sublinha.

O que norteava Pedro Baptista eram as suas próprias convicções e a intervenção cívica, salienta a publicação.

Este era o terceiro mandato que o investigador da Universidade do Porto, da Universidade do Minho e da Universidade Católica cumpria como deputado da Assembleia Municipal do Porto, sendo que a primeira experiência no palco político remonta ao tempo em que foi deputado independente pelo PS na Câmara do Porto (1993-97), a convite de Fernando Gomes, adianta a autarquia.

A câmara recorda ainda que o ensaísta tinha seis anos quando o pai o inscreveu como sócio do FC Porto e “o amor à camisola clubística azul e branca foi sempre incondicional”, tanto que pertenceu à equipa de futebol B dos juniores, para carimbar a sua passagem pelo relvado das Antas.

(Artigo atualizado às 18:18)