“Esta cidade é um importante nó [das linhas] de defesa dos soldados ucranianos no Donbass. O seu controlo permitirá efetuar novas operações ofensivas em profundidade contra a defesa das Forças Armadas da Ucrânia”, declarou Serguei Shoigu no decurso de uma reunião de quadros do seu ministério, difundida pela televisão.

Bakhmut está desde o verão passado no centro de uma ofensiva russa que arrasou a cidade, mas sem implicar até ao momento a sua ocupação. Nas últimas semanas, os russos registaram ligeiros avanços e parecem agora controlar o acesso à cidade pelo norte, sul e leste, numa manobra de cerco.

As tropas do grupo paramilitar Wagner estão na linha da frente deste ataque, ao preço de importantes perdas, segundo o seu fundador Evgueni Prigojine.

O líder deste grupo também entrou em conflito aberto com a hierarquia militar russa, que tem acusado regularmente de não disponibilizar munições em quantidade suficiente para os seus homens envolvidos na primeira linha em Bakhmut.

Ao ser hoje interrogado sobre as últimas declarações de Shoigu, o chefe da Wagner recusou comentar, apesar de sublinhar “não se ter cruzado” com o ministro em Bakhmut, que garante ter visitado para acompanhar as suas tropas.

O chefe do Wagner também apelou a “não meter a carroça à frente dos bois e dizer que tomámos Bakhmut” e quando, segundo a sua estimativa, entre 12.000 e 20.000 combatentes ucranianos ainda defendem a cidade.

“Será muito complicado matar entre 12.000 e 20.000 militares ucranianos até amanhã de manhã. Os únicos ‘maestros’ capazes de fazer isso estão no quartel-general do Exército ou no [estúdio de desenhos animados soviéticos] Soyouzmultfilm”, ironizou.

Do lado ucraniano, e quando aumentam as especulações sobre uma retirada militar, as autoridades anunciaram hoje que não renunciam à cidade e vão enviar reforços.

Segundo os responsáveis ucranianos, esta batalha permite enfraquecer as linhas russas, que terão registado pesadas perdas sem garantir um avanço significativo, e quando consideram que a cidade não possui um interesse estratégico evidente.

Prigojine reconheceu hoje que “decorrem encarniçados combates dia e noite”, mas os ucranianos “não fogem”. “Possuem munições, armas (…). Morrem em grande número por Bakhmut e apenas se rendem em último recurso. Chega de os considerar cobardes”, asseverou.

Em paralelo, a Ucrânia diz estar a preparar uma contraofensiva, e quando aguarda para breve a entrega de novo armamento ocidental.

Bakhmut tornou-se profundamente simbólica devido aos esforços efetuados pelos dois lados desde o verão para controlar a cidade que hoje apenas possui 4.000 habitantes, contra cerca de 70.000 antes do início da intervenção militar russa.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas — 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus –, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Neste momento, pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia — foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 8.173 civis mortos e 13.620 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.