Cerca de meia centena de motoristas reuniu-se esta manhã no Estádio Municipal de Leiria e, no final, o porta-voz do SIMM, Anacleto Rodrigues, anunciou a manutenção da greve, "por tempo indeterminado", acrescentando que a reunião serviu ainda para preparar os piquetes, "para que tudo decorra sem sobressaltos e não haja conflitos".

Só uma "aproximação da ANTRAM", associação que representa as empresas, pode cancelar a paralisação por tempo indeterminado, declarou. "Ainda há margem para a evitarem [a greve], se assim o desejarem", afirmou Anacleto Rodrigues.

O representante do SIMM afirmou ser possível uma desconvocação da paralisação caso haja "uma aproximação da Antram" que garanta "a um profissional altamente qualificado, um salário indigno".

Em Leiria, Anacleto Rodrigues descreveu o sentimento dos motoristas como de "revolta", depois dos serviços mínimos pedidos pelo Governo e da declaração de estado de emergência energética.

"Já adivinhávamos que os serviços mínimos decretados fossem generosos, mas não pensávamos que fossem tanto. Neste momento, aquilo que era uma indignação da parte destes trabalhadores, que tiveram praticamente 20 anos a perder poder de compra sem uma atualização salarial, deu lugar à revolta", disse.

Os motoristas "sentem que há uma série de poderes que se aliam e conjugam na tentativa de os silenciar, retirar voz e não deixar que venha para a praça os seus direitos e reivindicações".

A avançar a greve, os associados da SIMM vão estar "na rua, de forma cordial":

"Ao mesmo tempo que vamos lutar pelos nossos direitos laborais, vamos procurar dar uma lição de civismo e mudar um bocadinho a imagem que há do motorista", garantindo, por exemplo, os serviços mínimos.

"Os sindicatos estão a trabalhar no sentido de assegurar os serviços mínimos. Os motoristas são pessoas responsáveis. Não vai haver oposição aos serviços mínimos, estamos conhecedores da lei e não se pode fazer cortes de estradas em Portugal", garantiu.

O responsável do SIMM alertou, contudo, para a possibilidade existirem "infiltrados nos piquetes de greve", tentando "desestabilizar e passar uma imagem errada do que são os motoristas".

"Os coordenadores dos piquetes têm essa instrução: sempre que detetarem elementos estranhos, que os abordem e, se não forem motoristas, têm imediatamente de entrar em contacto com as forças dos elementos de segurança. Temos uma linha aberta com o comando nacional da GNR para que as forças de segurança atuem imediatamente sobre esses elementos e não sobre os motoristas".

O SIMM criticou em Leiria a possibilidade de haver militares a conduzir veículos pesados, para suprir necessidades durante o período de greve.

"Não se compreende, e desde já fica o Governo responsabilizado por qualquer acidente que possa vir a decorrer num veículo conduzido por um desses condutores", porque o transporte de matérias perigosas em cisterna implica "uma formação superior a cem horas".

"Estes senhores há muitos anos que não conduzem camiões e estão a ter uma formação dada em meia dúzia de horas. Tememos essa situação", disse Anacleto Rodrigues.

O Sindicato Independente de Motoristas de Mercadorias (SIMM) realizou um plenário apenas para os seus associados em Leiria. Seguem-se mais duas reuniões: uma pelas 16:00, em Aveiras de Cima, e outra às 17:00, em Olhão.

O Governo decretou na quarta-feira serviços mínimos entre 50% e 100% para a greve dos motoristas de mercadorias que se inicia na próxima segunda-feira, por tempo indeterminado.

Os sindicatos grevistas decidiram, então, impugnar o despacho dos serviços mínimos, entregando providências cautelares no Tribunal Administrativo de Lisboa.

Na segunda-feira, numa reunião entre os dois sindicatos grevistas e o Governo, o Ministério das Infraestruturas propôs aos sindicatos a possibilidade de ser desencadeado “um mecanismo legal de mediação”, que obriga patrões e sindicatos a negociar e que permite que a greve seja desconvocada.

O SNMMP e o SIMM entregaram um pré-aviso de greve em 15 de julho e acusaram a Antram de não querer cumprir o acordo assinado em maio, acordo esse que, segundo os sindicatos, levou à desmarcação de uma greve que estava programada para aquela altura.

Os representantes dos motoristas pretendem um acordo para aumentos graduais no salário-base até 2022: 700 euros em janeiro de 2020, 800 euros em janeiro de 2021 e 900 euros em janeiro de 2022, o que, com os prémios suplementares que estão indexados ao salário-base, daria 1.400 euros em janeiro de 2020, 1.550 euros em janeiro de 2021 e 1.715 euros em janeiro de 2022.

[Notícia atualizada às 13h43]