Em Coimbra, “o problema não se mede apenas pelos danos causados pela [tempestade] Leslie e instalou-se ao longo das últimas décadas: o verde urbano diminuiu drasticamente”, afirma o coordenador do CpC, Jorge Gouveia Monteiro.

A cidade tem vindo a “perder árvores há muitos anos” - por “abate e não substituição, por incumprimento dos promotores de loteamentos e falta de fiscalização camarária quando da receção das obras, até por escolha de espécies não adequadas aos locais”, alerta.

“Há muitas e muitas centenas de caldeiras vazias, porque nunca levaram as árvores previstas ou porque essas morreram ou foram abatidas” e não foram substituídas, sublinha ainda o coordenador do CpC, que tem dois eleitos na Assembleia Municipal.

O anúncio de plantação de cerca de 150 árvores em quatro locais, feito no dia 21 de março deste ano, numa cidade que “perdeu milhares de árvores só com a tempestade Leslie”, dá, no seu entender, uma imagem de como os poderes públicos estão a lidar com o problema.

“A banalização do ritual faz com que as pessoas encolham os ombros”, refere.

Em vez disso, “é urgente um plano de arborização da cidade, aberto à participação de todos, com as juntas de freguesia, as empresas do ramo, os cidadãos e cidadãs voluntários/as que quiserem integrar-se nas equipas”.

Trata-se de “uma causa de cidade, não de um adorno mediático”, salienta o CpC.

O movimento vai propor, por isso, o agendamento da discussão na Assembleia Municipal de um plano de arborização da cidade, que “é necessário e urgente”.

O plano baseia-se num estudo – “Dez motivos para plantar e manter árvores nas cidades e o diagnóstico para Coimbra” – feito pelo Grupo de Trabalho Recursos Naturais, Ambiente e Energia do CpC, coordenado por Anabela Marisa Azul, bióloga especializada em ecologia e investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular e do Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra (UC), e por Adelino Gonçalves, professor do Departamento de Arquitetura da UC.

Apontando vários exemplos da “desarborização massiva de ruas e avenidas em Coimbra”, o estudo, a que a agência Lusa teve acesso, defende que o problema deve impulsionar “a oportunidade singular de repensar uma cidade verde que possa ter um índice de qualidade do ar com a classificação de ‘muito bom’ na maior parte do ano”.

Depois de se deter em cada um dos “dez motivos para plantar e manter árvores nas cidades” – qualidade do ar, barreira ao som e ao vento, sombra, ventilação e poupança de energia, saúde e bem-estar social e cultural, qualidade de água e regulação dos sistemas hídricos, retenção de carbono e estética, entre outros – o estudo avança com um diagnóstico para Coimbra e compara o nível de arborização de diversos espaços, designadamente com recursos a fotografias de há alguns anos e de hoje.

As espécies de árvores, arbustos arbóreos e árvores de pequeno porte mais indicadas para cada situação são outro dos aspetos abordados.

“Nas regiões com clima quente e seco no final da primavera e verão, com influência mediterrânica, como é o caso de Coimbra, e a maior parte do nosso território, a plantação deve ocorrer no outono e inverno”, defende o trabalho, referindo que isso facilita o desenvolvimento do “sistema radicular numa fase de dormência da árvore”.

O CpC está a lançar uma campanha de sensibilização, designadamente através da divulgação do estudo, para alertar a população para “a importância do verde urbano”, sustentando que “as ações de cidadania podem ter o efeito multiplicador para impulsionar a transição para centros urbanos sustentáveis e com maior capacidade para a gestão de riscos, nomeadamente no contexto de alterações climáticas”.

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