Em nota hoje publicada na sua página na Internet, a Procuradoria-Geral Distrital do Porto refere que, com o plano que engendraram, os arguidos arrecadaram mais de 316 mil euros, doados por mais de 10 mil pessoas de praticamente todo o país.
O MP considerou indiciado que o plano foi posto em prática desde 2009 até 29 de junho de 2017, data em que os arguidos foram detidos pela PSP.
De acordo com a acusação, os arguidos criaram uma associação que tinha sede em Vila Nova de Famalicão e cujo objeto era o desenvolvimento de atividades de cariz social em prol da criança e da família.
“Posteriormente, os arguidos montaram na sede da associação um call center, contratando pessoas para operarem o mesmo”, acrescenta.
A estas pessoas eram então fornecidas listas de potenciais doadores a contactar telefonicamente, contacto no qual lhes devia ser exposto um "caso do dia", de forma a sensibilizá-los.
Seguia-se um pedido de donativo de, pelo menos, 5 euros, pretensamente destinado a solucionar a causa social exposta.
“Sempre que na sequência dos contactos dos ‘operadores de call-center’ alguém se dispunha a contribuir, eram anotados em ficha os seus elementos, necessários para o preenchimento do recibo e para o contacto posterior”, refere ainda a acusação.
Munidos dos recibos, os arguidos faziam depois um giro, recolhendo nas residências os donativos que as pessoas previamente contactadas se tinham comprometido a entregar e entregando os recibos, tendo até zonas territoriais distribuídas entre si.
Os doadores do centro e do sul remetiam as quantias por vale postal.
“Com esta prática, os arguidos lograram arrecadar e fazer seus, no período em causa, 316.130 euros”, acusa o MP.
Dois dos arguidos são homem e mulher, de 41 e 36 anos, e estão em prisão preventiva.
O outro arguido é um homem de 69 anos, que estaria encarregado de recolher os donativos e que ficou obrigado a apresentações periódicas no posto policial da sua área de residência.
Os três foram detidos pela PSP, na sequência de uma investigação que decorria há meio ano e que foi desencadeada por uma denúncia de uma das vítimas da burla.
Em junho de 2017, a Esquadra da PSP de Famalicão concretizou cinco mandados de busca, apreendendo diversos objetos relacionados com aquela atividade, designadamente milhares de fichas de identificação contendo os dados das vítimas (doadores), recibos falsos, carimbos falsos de associações, material informático, documentação, apontamentos, um automóvel e cerca de 300 euros.
Segundo a PSP, a “organização” operava a coberto do nome de várias associações de cariz social, utilizando moradas falsas e elementos de identificação falsos, em concreto os números fiscais.
As chamadas telefónicas eram efetuadas por jovens mulheres, contratadas por períodos de curta duração, cerca de três semanas a um mês.
Estabeleciam o contacto telefónico com as vítimas, alegando que o dinheiro a doar se destinava a uma causa social, normalmente associada a crianças com doenças oncológicas e com necessidade de tratamentos no estrangeiro.
“A maioria das vítimas procedia à entrega mensal das quantias acima referidas, motivo pelo qual muitas das vezes nem questionavam mais o destino da doação, tanto mais que a maior parte das vítimas eram pessoas aposentadas ou de meia-idade”, refere um comunicado da PSP, emitido aquando da detenção.
As entregas eram entre cinco a 10 euros mensais.
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