“Até agora, aguardámos pacientemente por uma mudança. Agora temos que agir”, é como termina a carta aberta dirigida ao festival, divulgada no site da Rede Europeia das Mulheres do Audiovisual (EWA, sigla em inglês), uma das subscritoras.

Na carta, as associações recordam que para a última edição - a 74.ª - foi selecionado apenas um filme realizado por uma mulher: “Jia nian hua”, de Vivan Qu.

“No ano em que Lucrecia Martel não foi elegível para a competição em Cannes e ‘Il Signor Rotpeter’ de Antonietta De Lillo esteve em Veneza fora de competição. O mesmo ano em que Alberto Barbera [o diretor do Festival de Veneza] anunciou: ‘olhamos a qualidade e não ao género’”, referem.

Este ano, a situação repete-se: “Com apenas um filme dirigido por uma mulher em competição, Alberto Barbera insistiu que foi, ‘qualidade, não género’”, lembram.

As associações defendem que “criadoras de todo o mundo exigem uma autêntica reforma”.

“Queremos mudanças interseccionais em todos os níveis da indústria. Queremos criar mudanças duradouras nos espaços que ocupamos como produtoras, realizadoras, selecionadoras de filmes. As mulheres já são 50% dos estudantes de cinema, no entanto, quando chegam ao mercado de trabalho, são cada vez menos vistas”, defendem.

No final de julho, em declarações ao Hollywood Reporter, Alberto Barbera afirmou que preferia “mudar de emprego” caso “fosse obrigado a selecionar um filme apenas por ter sido realizado por uma mulher e não baseado na qualidade do filme em si”.

Na altura, o diretor do festival de Veneza referiu ter assistido a cerca de 1.500 filmes, submetidos ao certame, e que apenas um terço eram de mulheres.

Na carta, as associações consideram que, “quando Barbera ameaça demitir-se, está a perpetuar a ideia de que selecionar filmes feitos por mulheres implica baixar os padrões”.

“Ele está a sugerir que os filmes feitos por mulheres são de algum modo inferiores aos filmes feitos por homens; se tiverem que ser selecionados por cotas ou escrutínio de género, a qualidade ficará comprometida e ELE DEMITE-SE”, acusam.

As associações não aceitam esta argumentação. “Sabemos que já foi provado que, em vez de impedir a meritocracia, metas e quotas ajudam a promovê-la ampliando o número de candidatos. Sabemos que ao promover a diversidade, se oferece maior e não menor escolha. Sabemos que se não houver discussão sobre criar espaço à diversidade de género (ou qualquer diversidade) ou se não encararmos a maneira como vemos filmes feitos por vários realizadores, não iremos avançar na discussão nem restaurar este sistema que favorece sobretudo homens brancos”, defendem.

Além da EWA, a carta é ainda subscrita pela associação Internacional Mulheres no Cinema e na TV (WifTi International), a WIFT Nordic, a WIFT Sweden e a Rede Suíça de Mulheres do Audiovisual.

O 75.º Festival Internacional de Cinema de Veneza decorre entre 29 de agosto e 8 de setembro.

Este ano, o Leão de Ouro de carreira será entregue à atriz britânica Vanessa Redgrave e ao realizador canadiano David Cronenberg.

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