“Prigozhin perdeu a cabeça por causa de grandes somas de dinheiro”, afirmou Dmitri Kissiliov, uma das principais vozes do aparelho mediático do Kremlin, no programa semanal que mantém no canal público.

“O sentimento de ter tudo como garantido começou há muito tempo, com as operações [do Grupo Wagner] na Síria e em África”, continuou.

Segundo Kissiliov, este sentimento foi “reforçado” depois de os mercenários de Prigozhin terem tomado as cidades de Soledar e Bakhmut, na Ucrânia, no início deste ano.

“[Prigozhin] pensou que podia opor-se ao Ministério da Defesa russo, ao Estado e ao próprio Presidente”, afirmou Kissiliov que, para ilustrar os supostos delírios de grandeza do líder do Grupo Wagner, observou, sem apresentar quaisquer provas, que a empresa militar recebeu 858 mil milhões de rublos (8.800 milhões de euros) de dinheiro público.

Segundo Kissiliov, “um dos principais fatores” do motim do ‘Wagner’ foi a recusa do Ministério da Defesa russo em prolongar os contratos lucrativos assinados com o grupo de ‘catering’ Concord, também pertencente a Prigozhin.

A rebelião do Grupo Wagner, que ocorreu a 23 e 24 de junho, abalou as autoridades russas no meio do conflito na Ucrânia.

Durante várias horas, os combatentes do ‘Wagner’ ocuparam um quartel-general do exército russo em Rostov (sudoeste) e percorreram várias centenas de quilómetros em direção a Moscovo.

O motim terminou na noite de 24 de junho, com um acordo para que Prigozhin partisse para a Bielorrússia.

Não foram anunciadas quaisquer sanções contra os amotinados, mas o futuro das empresas de Prigozhin parece incerto. Ao longo da semana que passou, os portais de notícias na Web próximos do grupo foram bloqueados na Rússia.

Sábado passado, a sede do grupo em São Petersburgo, o Wagner Center, anunciou na rede social Telegram que ia mudar de instalações, assegurando, no entanto, que continuaria a funcionar mas sob um “novo formato”.

Prigozhin insistiu que a sua revolta não tinha como objetivo derrubar o governo, mas salvar o ‘Wagner’ de ser desmantelado pelo Estado-Maior russo, a quem acusa descaradamente de “incompetência” no conflito na Ucrânia.

Desde segunda-feira, 26 de junho, que Prigozhin não fez quaisquer declarações públicas.

Hoje, Kissiliov contestou a ideia de que os combatentes do ‘Wagner’ eram os mais eficazes das forças russas, afirmando que tinham levado “225 dias” a tomar Bakhmut, em comparação com “70 dias” para o exército regular tomar Mariupol.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de quase 15 milhões de pessoas — mais de 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus -, de acordo com dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e mais de 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão, justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade do que definiu como “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia, foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para Kiev e com a imposição de sanções políticas e económicas a Moscovo.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra quase 9.000 civis mortos e mais de 15.000 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.