Segundo a Associated Press (AP), centenas de taxistas organizaram-se para recolher os estudantes em Novi Sad, onde chegaram no sábado para um dia de bloqueio às pontes sobre o rio Danúbio naquela localidade, no âmbito de um protesto mais alargado contra a corrupção lançado por um movimento de estudantes universitários.
“Isto foi tudo espontâneo, cerca de 20 ou 30 de nós lançaram isto”, disse Sava Jovanovic, um dos organizadores da ação que ilustra a onda de simpatia e solidariedade para com os estudantes.
“Eles são os nossos filhos, os nossos estudantes, vamos trazê-los para casa”, disse Jovanovic.
Dezenas de milhares de pessoas convergiram no sábado para Novi Sad para participarem nos bloqueios, intitulados “Três meses – Três pontes”.
A 1 de novembro, um viaduto na estação de comboios de Novi Sad ruiu e causou 15 mortos, lançando um amplo movimento contra o Governo, liderado pelos estudantes.
Muitas pessoas na Sérvia acreditam que o colapso foi essencialmente causado pela corrupção do Governo num grande projeto de infraestruturas envolvendo empresas estatais chinesas.
As autoridades sérvias são acusadas de negligência e desrespeito pelas normas de segurança durante a reconstrução da estação de comboios de Novi Sad.
Desde o colapso do viaduto, têm-se realizado regularmente protestos e bloqueios um pouco por toda a Sérvia.
Buzinando e empunhando bandeiras da Sérvia, os taxistas partiram de Belgrado em direção a Novi Sad em conjunto, formando uma enorme coluna cumprimentada por quem passava na rua e outros condutores. Os carros foram marcados com “táxis dos estudantes”.
À chegada a Novi Sad, os taxistas receberam um acolhimento caloroso, passando debaixo de uma enorme faixa onde se lia “Os estudantes vão libertar o mundo”.
Radoje Tosovic, um taxista de Belgrado, disse que os seus netos são a sua motivação numa “luta por um futuro melhor”, que os estudantes são “o que a sociedade tem de melhor” e que todos deveriam apoiá-los.
As exigências dos estudantes pela garantia de um Estado de direito, a sua empatia para com as vítimas, a que se junta a sua resiliência e prontidão para o sacrifício em busca de justiça ‘atingiram um nervo’ numa nação desiludida habituada a décadas de crises perpétuas.
Onde quer que os estudantes estabelecessem bloqueios, ou enquanto atravessaram as zonas rurais da Sérvia no caminho até Novi Sad, as pessoas aproximavam-se e ofereciam comida e refrescos. Muitas choraram.
Dejan Jovic, um taxista de Belgrado que tinha uma filha entre os manifestantes que marcharam pelo país, disse: “Eles caminharam ao longo de 80 quilómetros, vamos trazê-los para casa. Algo de muito bonito reacendeu-se novamente, algo que não víamos há muito tempo”.
O que começou como um protesto contra suspeitas de corrupção em contratos de construção transformou-se num descontentamento mais generalizado contra o Governo sérvio e no mais sério desafio dos últimos anos ao líder populista do país, o Presidente Aleksandar Vucic.
A força e a determinação dos manifestantes apanharam muitos de surpresa, num país onde centenas de milhares de jovens emigraram à procura de melhores oportunidades.
A reação inicial de Vucic foi acusar os estudantes e outros manifestantes de colaborarem com potências estrangeiras para o retirar do poder.
Entretanto, as autoridades já propuseram várias concessões, ignoradas pelos manifestantes por as considerarem insuficientes.
As manifestações já forçaram a demissão do primeiro-ministro da Sérvia, Milos Vucevic.
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