Na véspera de uma cimeira de líderes da NATO, na qual a questão das contribuições financeiras dos Aliados voltará a estar em cima da mesa, até porque é uma questão repetidamente levantada pela administração norte-americana de Donald Trump, o relatório de hoje da Aliança revela que apenas quatro países, além dos Estados Unidos – Grécia, Estónia, Reino Unido e Letónia – já atingem a “meta” dos 2% acordada na cimeira do País de Gales em 2014, para ser alcançada no espaço de 10 anos (até 2024).
De acordo com os dados hoje publicados – para 2017 e 2018 trata-se ainda de estimativas -, Portugal destinou no ano passado 2.398 milhões de euros a despesas em Defesa, o que equivale a 1,24% do seu PIB, devendo este ano aumentar para 2.728 milhões de euros, o equivalente a 1,36% da riqueza nacional.
Em termos de proporção do PIB real, Portugal encontra-se precisamente “a meio da tabela”, no 14.º lugar entre os 28 países membros da Aliança, que é liderada de forma destacada pelos Estados Unidos, que dedicam 3,50% do PIB a despesas militares, e insistem com os seus aliados que também aumentem as suas contribuições financeiras, até porque Europa e Canadá, juntos, consagram atualmente 1,47% do PIB a depesas em matéria de Defesa, quando em 1998 superavam os 2% (2,01%) .
Em termos proporcionais – em relação ao PIB -, Portugal encontra-se à frente de países como a Holanda (1,35%), Alemanha (1,24%), Canadá (1,23%), Itália (1,15%), Espanha (0,93%) e Bélgica (0,93%), país que acolhe o quartel-general da NATO, onde na quarta e quinta-feira se reunirão os chefes de Estado e de Governo da Aliança, entre os quais o Presidente norte-americano, Donald Trump.
Portugal, que estará representado na cimeira pelo primeiro-ministro, António Costa, já anunciou, na semana passada, que vai defender na reunião de Bruxelas que o contributo para a paz não depende apenas do reforço da despesa em defesa, mas também da cooperação e ajuda ao desenvolvimento.
“A forma como nós, os europeus, favorecemos o desenvolvimento e a cooperação internacional é uma contribuição muito importante para a paz e segurança, que tem de ser também contabilizada”, sustentou Augusto Santos Silva no Parlamento na passada quarta-feira, quando questionado sobre qual será a posição que Portugal iria defender na cimeira.
O chefe de diplomacia disse concordar que “é preciso um aumento do esforço europeu no que diz respeito à despesa com segurança e defesa”, como o Presidente norte-americano reclama, mas, sustentou, “é sobretudo preciso um esforço, em países como Portugal, na modernização da estrutura dessa despesa”.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou em junho mensagens aos aliados da NATO, incluindo Portugal, queixando-se das contribuições insuficientes dos respetivos países junto da Aliança Atlântica.
Nas cartas, Trump refere que em 2017 formulou queixas em privado e em público para pressionar os países da NATO a contribuírem com 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para a defesa comum.
Desde que foi eleito Presidente dos Estados Unidos, Trump queixa-se de que Washington gasta demasiados recursos com a Aliança Atlântica e tem criticado a situação, de forma reiterada, aos líderes dos vários países.
Hoje mesmo, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, aconselhou hoje Trump a lembrar-se de quem tem sido “o melhor aliado dos Estados Unidos” e a dar-lhe valor, até porque “a América não tem assim tantos”.
Numa conferência de imprensa em Bruxelas por ocasião da assinatura da declaração conjunta sobre a cooperação UE-NATO, na véspera de uma cimeira da Aliança Atlântica que decorrerá entre quarta e quinta-feira na capital belga, Tusk fez questão de se “dirigir diretamente ao Presidente Trump, que há muito tempo tem criticado a Europa, quase diariamente, pelo que, do seu ponto de vista, tem sido uma contribuição insuficiente para as capacidades comuns de defesa e por viver à conta dos EUA”.
“Caro presidente Trump, a América não tem e não terá melhor aliado do que a Europa. Hoje, os europeus gastam em Defesa muito mais do que a Rússia e tanto quanto a China. E penso que não pode ter dúvidas, Presidente, de que este é um investimento na defesa e segurança comum norte-americana e europeia, o que não pode ser dito relativamente à despesa (em Defesa) russa ou chinesa”, observou.
Aconselhando a administração norte-americana a dar o devido valor aos seus aliados, “até porque não tem tantos assim”, Tusk prosseguiu num tom muito crítico, comentando que “o dinheiro é importante, mas a solidariedade genuína é ainda mais importante”.
“E por falar em solidariedade, também refuto os argumentos do Presidente (Trump) quando diz que os Estados Unidos, sozinhos, protegem a Europa dos seus inimigos e que os EUA estão quase sozinhos nesta luta”, disse, lembrando o que sucedeu depois dos atentados terroristas do 11 de setembro de 2001, quando “a Europa foi a primeira a responder em grande escala quando os EUA foram atacados e pediram solidariedade”.
“Soldados europeus lutaram ombro a ombro com soldados norte-americanos no Afeganistão. 870 bravos homens e mulheres sacrificaram as suas vidas, incluindo 40 soldados do meu país, a Polónia. Caro presidente, por favor lembre-se disto amanhã (quarta-feira), quando nos encontrarmos na cimeira da NATO, mas acima de tudo quando se encontrar com o presidente (russo, Vladimir) Putin, em Helsínquia. É sempre bom saber qual é o seu amigo estratégico e qual é o seu problema estratégico”, concluiu.
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