Um estudo publicado hoje na revista Science Advances, apresenta conclusões de vários anos de escavações e põem em causa o que se pensava sobre as movimentações humanas na região, que era considerada inacessível para os homens de Neandertal (Homo neanderthalensis), espécie que coexistiu com os humanos modernos (Homo sapiens).
As novas descobertas levaram a que os investigadores reconsiderassem as rotas que a antiga espécie humana seguiu na disseminação da espécie de África para a Europa e demonstram a capacidade de adaptação dos neandertais a desafios ambientais.
“Até recentemente, essa parte do mundo era vista como irrelevante para os estudos com seres humanos, mas estes resultados obrigam-nos a repensar a história das ilhas do Mediterrâneo”, disse Tristan Carter, professor associado de Antropologia da Universidade McMaster, no Canadá, e principal autor do estudo, que contou com a participação de Dimitris Athanasoulis, chefe de Arqueologia do Cycladic Ephorate of Antiquities, do Ministério da Cultura da Grécia.
Embora se soubesse que os caçadores da Idade da Pedra viviam na Europa continental há mais de um milhão de anos, acreditava-se que as ilhas do Mediterrâneo só tinham sido colonizadas há 9.000 anos, por agricultores.
Os estudiosos acreditavam que o mar Egeu, que separava a Anatólia ocidental [Ásia menor] da Grécia continental, era intransponível para os neandertais, sendo a ponte terrestre da Trácia, no sudoeste da Europa, a única passagem.
As novas investigações sugerem agora que o mar Egeu era acessível muito antes do que se pensava. Em certos momentos da Idade do Gelo o mar era mais baixo, expondo uma rota terrestre entre os continentes, permitindo que as populações pré-históricas passassem a pé até Stelida, perto da ilha de Naxos, uma rota de migração alternativa que liga África à Europa.
Os investigadores consideram que a área teria sido atraente devido à abundância de matérias-primas para a construção de ferramentas e de água doce.
No entanto, “ao entrar nesta região, as novas populações teriam enfrentado um ambiente novo e desafiador, com diferentes animais, plantas e doenças, exigindo novas estratégias adaptativas”, disse Tristan Carter.
A equipa encontrou vestígios de atividade humana de 200.000 anos em Stelida, onde desenterrou várias ferramentas e armas de caça.
Os dados científicos recolhidos no local contribuem para o debate acerca da importância das rotas costeiras e marinhas para a disseminação das espécies humanas. Embora os dados sugiram que o mar Egeu tenha sido atravessado a pé, os autores também não descuram a hipótese de que os neandertais possam ter construído embarcações.
A investigação agora publicada faz parte do Projeto Arqueológico Stelida Naxos, colaboração que envolve vários investigadores que trabalham no local desde 2013.
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