No final do plenário, questionado sobre a posição de fonte da direção do PSD transmitida à Lusa de que a decisão da bancada do PSD de votar a favor do projeto do CDS-PP sobre combustíveis foi tomada “à revelia” do presidente do partido, Fernando Negrão começou por dizer que “a direção é uma entidade abstrata que não emite opiniões”.

“Quem assistiu ao debate de ontem [quinta-feira] sabe que a proposta do PSD é a que vai valer na especialidade”, assegurou, acrescentando que este voto favorável foi semelhante à de anteriores votações do mesmo projeto do CDS-PP, que já tinha sido discutido no parlamento em quatro ocasiões anteriores.

Perante a insistência dos jornalistas sobre se o voto favorável foi ou não concertado com Rui Rio, o líder parlamentar do PSD respondeu: “Eu procedi nesta matéria como procedo em todas as outras com a direção do partido, designadamente com o doutor Rui Rio”.

“Sempre da mesma forma, eu estou farto de explicar”, disse, escusando-se a detalhar esse método.

Negrão entrou na sala da direção do grupo parlamentar do PSD já sem responder aos jornalistas se tinha condições para se manter no cargo.

Sobre o futuro dos projetos aprovados na generalidade sobre combustíveis - um projeto de lei do CDS-PP e um de resolução do PSD - o líder parlamentar social-democrata assegurou que, na especialidade, haverá discussão no sentido de fazer com que a proposta dos democratas-cristãos “seja influenciada” pela do PSD.

Em várias reuniões da bancada do PSD, questionado no final sobre sentidos de voto em relação a diplomas, são muitas as vezes em que Fernando Negrão não dá uma resposta definitiva, remetendo para o partido uma posição final.

“O grupo parlamentar pertence a um partido político e o tema será discutido na comissão permanente e, nessa altura, será opinião definitiva”, disse, por exemplo, em 05 de abril em relação a iniciativas sobre identidade de género e paridade.

Fonte da direção do partido disse hoje à Lusa que a decisão da bancada do PSD de votar a favor do projeto do CDS-PP sobre combustíveis foi tomada “à revelia” de Rui Rio, uma atitude considerada “gravíssima”.

Na quinta-feira, a bancada do PSD contribuiu para aprovar com o voto a favor, na generalidade, o projeto de lei do CDS-PP que elimina o adicional do Imposto Sobre os Combustíveis (ISP), iniciativa que teve votos contra de PS e abstenções de PCP, BE e PEV.

“A bancada votou completamente à revelia do doutor Rui Rio, que foi confrontado com a decisão já tomada”, assegurou à Lusa fonte da direção do PSD, assegurando que, se o presidente do partido tivesse sido informado previamente, a decisão teria sido de rejeitar esta iniciativa.

Segundo a mesma fonte, a decisão de votar a favor do projeto do CDS-PP “é incoerente” com o facto de o PSD ter também um projeto de resolução sobre o tema – “que apenas recomenda, não é imperativo” e não retira receita – e com a posição manifestada por Rui Rio apenas dois dias antes, no encerramento das jornadas parlamentares do partido.

“A posição do PSD hoje, em 2018, ou do PSD ao longo de toda a sua história desde 74 é: a função do PSD é empurrar o Governo para a irresponsabilidade? Não, isso é função do PCP e do BE. Nós não temos essa função, mas temos outra, que é a de obrigar o Governo a falar verdade às pessoas”, afirmou Rui Rio, na terça-feira, na Guarda.