A discussão não é sobre maçãs envenenadas em contos de fadas, mas poderia ser. No início da semana, uma análise à fruta fresca europeia relativamente a 2019, da responsabilidade da rede de organizações não governamentais PAN Europa, referia que as maçãs e peras cultivadas em Portugal estão entre as frutas com maior quantidade de pesticidas perigosos.

Segundo o documento divulgado, estes tipos de fruta estão no segundo lugar do ranking quanto à contaminação. Traduzindo por números, em 85% das peras portuguesas testadas e em 58% de todas as maçãs testadas foram encontrados pesticidas.

Os autores da análise salientam que “tem havido um aumento dramático de fruta vendida ao público com resíduos dos pesticidas mais tóxicos que deveriam ter sido banidos na Europa por razões de saúde”.

Contudo, o Governo veio ontem dizer que o estudo da PAN Europa apresenta uma “mensagem alarmista”, ao abranger um conjunto limitado de produtos, sem referência aos limites máximos, precisando que, em 2020, 93,6% das amostras nacionais estavam em conformidade.

A mensagem foi reforçada esta quinta-feira, com a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, a apelar aos consumidores para continuarem a comprar fruta portuguesa e a desvalorizar os resultados do estudo.

“Podem e devem continuar a comer fruta portuguesa, que é de muito boa qualidade”, afirmou a governante, durante uma visita à Herdade do Esporão, no concelho de Reguengos de Monsaraz, distrito de Évora.

Nas declarações aos jornalistas, a ministra da Agricultura considerou que este estudo foi elaborado com dados de “relatórios oficiais que estão disponibilizados”, mas que foram “retirados do contexto”.

“Aquele estudo que saiu não é um estudo científico, não é validado”, frisou, sugerindo aos consumidores que “olhem para os estudos científicos e para os dados que estão disponibilizados nos sítios eletrónicos” das entidades com competência.

Maria do Céu Antunes deixou ainda a garantia de que a Direção-Geral da Alimentação e Veterinária faz “o controlo de qualidade” dos produtos alimentares, pelo que as frutas portuguesas estão “dentro dos parâmetros legais e cumprem a legislação comunitária”.

“Em Portugal não são utilizados pesticidas proibidos. Foram retirados do mercado sempre que a legislação assim o obrigou”, salientou, insistindo que o seu Ministério não tem registo de “qualquer problema com resíduos tóxicos na fruta portuguesa”.

Todavia, a titular da pasta da Agricultura admitiu que possam existir “vestígios” de pesticidas na fruta portuguesa, mas salientou que quando isso acontecer é “até por contaminações das próprias amostras ou do ar”.

Estes casos, referiu, “estão muito longe de serem um problema de saúde pública, porque estão muito longe dos valores máximos admissíveis” pela legislação.