Citado pela agência Reuters, o documento redigido pela comissão nepalesa responsável por apurar as causas do acidente aponta que Abid Sultan, de 52 anos, estava sobre stress, com falta de sono e “emocionalmente perturbado” por ter sentido que uma colega, que não estava a bordo, tinha questionado a sua competência.

O relatório refere ainda que o piloto, sentindo-se “muito inseguro”, fumou dentro do cockpit e agiu de forma agressiva com os colegas, “mantendo uma longa conversa, desnecessária e pouco profissional, mesmo na fase crítica” da aterragem.

A situação de "colapso emocional" do piloto, em conjunto com "a incapacidade de parte da tripulação de seguir os procedimentos operacionais habituais no período crítico do voo, contribuiu para a perda de perceção situacional” terá levado o voo 211 da US-Bangla Airlines a despenhar-se ao tentar aterrar no Aeroporto de Tribuvhan, em Kathmandu, quando vinha de Dhaka, capital do Bangladesh.

“O piloto pensou que ia conseguir manobrar o avião e aterrar. Mas não conseguia”, disse Buddhisagar Lamichhane, um dos investigadores, à agência Reuters. A falta de perceção levou a que a equipa não se apercebesse do desvio que o aparelho, um Bombardier Q400 turboprop, estava a fazer em relação à pista de aterragem.

O avião estava a viajar a uma altitude muito baixa e a uma posição incorreta quando a tripulação avistou a pista, pelo que estava “demasiado próximo da pista e mal alinhado”, lê-se ainda no relatório.

O piloto devia ter interrompido a aterragem e voltado a subir o avião para uma segunda tentativa, mas, ao invés, tentou conduzir a manobra “em puro desespero” e o avião derrapou fora da pista para a zona verde circundante, irrompendo rapidamente em chamas. 49 pessoas morreram ainda a bordo, tendo outras duas perecido dos ferimentos já no hospital.

Apesar de não serem a causa do acidente, os investigadores concluíram que os controladores aéreos também contribuíram para este desenlace ao “faltar-lhes assertividade” para comunicar à tripulação o erro que esta estava a cometer.

Outro problema apontado pelo relatório é que Sultan estava acompanhado por uma copiloto de 25 anos que tinha apenas 390 horas de experiência de voo e que nunca tinha aterrado em Kathmandu, um aeroporto onde a aterragem é notoriamente difícil de se fazer, dado o terreno montanhoso em redor. O relatório aponta que a disparidade em experiência e o nível de autoridade do piloto provavelmente impediu que a copiloto fosse mais assertiva na sua assistência. Ambos morreram no acidente.

Abid Sultan já tinha um historial complicado, tendo sido forçado a sair da Força Aérea do Bangladesh em 1993 por sofrer de depressão. O piloto só teve permissão para pilotar aviões civis em 2002 depois de uma avaliação médica detalhada. Depois de pilotar aviões de diversas companhias, Sultan chegou à US-Bangla Airlines em 2015, ano em que esta começou a operar.

Por esta razão, o relatório também deixou um pedido à autoridade de aviação civil do Bangladesh para que esta reavalie o estado físico e psicológico dos seus pilotos em terra antes das suas licenças de voo serem renovadas. Para além disso, sugeriu também que os pilotos que estejam a fazer voos sejam sujeitos a avaliações psicológicas durante os treinos.

A saúde mental dos pilotos foi um tema que voltou a ser debatido quando, em 2015, Andreas Lubitz, copiloto do voo 9525 da companhia Germanwings, deliberadamente despenhou o avião contra uma montanha nos Alpes Franceses, matando todos os 150 ocupantes. À época, descobriu-se que Lubitz tinha sido tratado por tendências suicidas mas que ocultou o seu estado de saúde aos seus superiores.

No ano passado, a Comissão Europeia adotou novas regras quanto à saúde mental dos pilotos, obrigando pela primeira vez as companhias a fazer avaliações psicológicas aos profissionais antes de os contratarem.

O desastre de 12 de março de 2018 foi o pior do Nepal nos últimos 26 anos. Antes, em 1992, um avião da Pakistan International Airlines despenhou-se também no aeroporto de Kathmandu, vitimando as 167 pessoas a bordo.