Os manifestantes, entre os quais familiares das vítimas das mortes por que Fujimori foi condenado, concentraram-se na praça central de San Martín para denunciar o indulto como um ato de impunidade.

Os familiares dos assassinados e desaparecidos anunciaram que irão recorrer a instâncias internacionais para anular o indulto e exigir que Fujimori, de 79 anos, cumpra a totalidade da pena a que foi condenado.

Na manifestação eram visíveis cartazes que qualificavam o indulto como um “insulto” e o Presidente, Pedro Pablo Kuczynski, que concedeu o perdão, como um “traidor” e “cúmplice do criminoso”. Consideraram ilegal a amnistia concedida por Kuczynski, que afirmaram resultar de um pacto político para permitir que o governante possa continuar no poder.

Os manifestantes contestaram a presença de um grande contingente policial no local do protesto e houve mesmo algumas escaramuças.

Em menor quantidade, um grupo de simpatizantes de Fujimori concentrou-se frente à clínica onde o ex-presidente está hospitalizado para celebrar a sua libertação. Os fujimoristas gritaram o nome do ex-presidente e manifestaram apoio aos seus filhos quando entraram na clínica para visitar Fujimori.

Indulto do presidente acontece três dias depois de filho de Fujimori o ter salvo da destituição no Congresso 

O Presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, anunciou no domingo que concedeu perdão humanitário a Alberto Fujimori após uma junta médica avaliar a situação do antigo chefe de Estado e verificar que este sofre de “uma doença progressiva, degenerativa e incurável”.

A mesma estrutura considerou que as condições que o antigo governante tinha na prisão significariam um risco grave para a sua vida, saúde e integridade.

A decisão de Kuczynski foi anunciada três dias depois de o chefe de Estado se salvar da destituição pelo Congresso graças aos votos de abstenção do deputado Kenji Fujimori, filho do ex-presidente, e de outros nove parlamentares do partido Força Popular, o que foi considerado o início de uma aliança a favor do indulto para Alberto Fujimori.

Nesse dia, a presidente do Conselho de Ministros, Mercedes Aráoz, afirmou que o governo não negocia indultos e rejeitou ter recebido um pedido de indulto de Fujimori.

Numa nota oficial divulgada no domingo à noite, lê-se agora que "o Presidente do Peru, usando os poderes que lhe são conferidos pela Constituição, decidiu conceder perdão humanitário a Alberto Fujimori e a outros sete presos".

Kenji Fujimori já tinha, em várias ocasiões, pedido ao chefe de Estado que indultasse o seu pai. A Força Popular, liderada pela filha mais velha do ex-presidente, Keiko Fujimori, tinha anunciado que iria votar a favor da destituição de Kuczynski.

No sábado, Alberto Fujimori foi transferido da prisão, onde cumpre uma pena de 25 anos de cadeia, para uma clínica da capital, Lima, devido a tensão arterial baixa e arritmia, anunciou o seu médico.  Durante a transferência de ambulância, da prisão para a clínica particular em Lima, Alberto Fujimori foi acompanhado pelo filho mais novo, o deputado Kenji Fujimori.

Fujimori, Presidente do Peru entre 1990 e 2000, foi condenado em 2009 a 25 anos de prisão após ser responsabilizado pela-a mortes de 25 pessoas em 1991 e 1992 perpetradas pelo grupo militar encoberto Colina, e pelo sequestro agravado de um jornalista e um empresário em 1992.

Durante a presidência de Ollanta Humala (2011-2016), os filhos de Alberto Fujimori apresentaram um pedido de indulto por razões humanitárias, que foi rejeitado por o seu estado de saúde não ser grave. Logo após a eleição de Pedro Pablo Kuczynski submeteram outro pedido nesse sentido que acabou por ser retirado após a recusa do atual chefe de Estado em avaliar essa opção.

Human Rights Watch considera indulto uma "vulgar negociação política"

O diretor executivo para a América da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch lamentou o perdão concedido ao ex-presidente peruano Alberto Fujimori, considerando que é o resultado de uma "vulgar negociação política".

"Em vez de reafirmar que num estado de direito não há tratamento especial para ninguém, ficará para sempre a ideia de que a sua libertação foi uma vulgar negociação política em troca da permanência de @ppkamigo (Kuczynski) no poder", escreveu José Miguel Vivanco na sua conta de Twitter.